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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Quando dei aulas numa prisão: primeiras impressões

UM HORÁRIO MUITO ESPECIAL…

Relembro o dia em que me dirigi à escola para receber o meu horário. Aquela folha de papel transformou-se subitamente num projéctil disparado contra mim próprio. As primeiras gotas de suor frio invadiram-me a face e eu, na confusão dos sentidos, procurava manter o equilíbrio.
Nos dias seguintes sorvi todas as histórias e notícias, vinculando-me ao assunto e procurando ver alguma luz no que se afigurava como o breu, o tenebroso. A surpresa foi evidente, mas, para não desmerecer a minha hereditariedade, resolvi sobreviver!
No entanto, as noites eram penosas, tinha corpo sem o sentir e era difícil conciliar o corpo. Durante o dia, acontecia o recobro, mas aquela odisseia era para mim bastante agreste e as pernas tremiam-me como um canavial em dia de ventania.
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Relembro o edifício fronteiro da prisão: muros aguareladamente brancos, portas maciças de metal de um verde carregado. Cá fora alguns reclusos, em sistema de regime aberto, moviam-se maquinalmente. Sobretudo recordo os olhares, de um frio cortante, diferentes, que na maior parte dos casos estavam dissociados da alma ansiosa de paz. A entrada neste inferno de Cumas era feita através de movimentos sincopados, pois havia que abrir muitas portas verdes, maciças. Na memória ainda retenho o chocalhar das chaves, que iam abrindo languidamente aquele extenso labirinto.
As armas! As armas faziam parte deste quadro surrealista, bélico…metálico. Muitas vezes, reparei que elas estavam apontadas a alguém e aprendi a vê-as sem as sentir.
Conheci os meus alunos… irmãos de escrita. A vida foi correndo. Os sentimentos foram-se diluindo, mas uma nuvem de dureza recalcada apoderou-se de mim e jamais me irá largar. Hoje em dia, faço uma comparação entre este filme surrealista e outro que para mim foi marcante…Platoon de Oliver stone e, por analogia, chego à conclusão que a prisão foi o meu Barnes!

1 comentário:

  1. Achei este relato muito interessante pelo facto de ser um professor numa prisão coisa fora do habitual, coisa que ninguén ningeun se lembro de escrever.jav

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