Sintra

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Sintra - Portugal vale a pena!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Presépio de Natal


Nesta época do ano estamos sempre mais susceptíveis ao próximo. Olhamos mais para o lado e aquele ser humano, por quem tantas vezes passamos e nem temos tempo de olhar, faz-nos, nesta época, estar mais atentos.

Celebramos o nascimento de Jesus que veio ao mundo para nos salvar!

Contudo, se olharmos à nossa volta também vemos os centros comerciais cheios, as pessoas cheias de sacos de compras e a mesa de Natal farta. Mas não estaremos a desviar-nos um pouco do verdadeiro espírito de natal?

Ainda me lembro quando era criança e vivia a ânsia da preparação do Natal. A árvore de natal era cuidadosamente enfeitada e a melhor parte, confesso, era a preparação do presépio. O musgo era cuidadosamente escolhido e o presépio era preparado pelos mais novos da família. Uma verdadeira aldeia, onde não faltavam todas as personagens: o menino Jesus, nas palhinhas deitado, Maria e José, os três Reis Magos, os animais ao redor do Menino e todas as personagens da aldeia, o Pastor e suas ovelhas, a Lavadeira, e outros adereços como o rio, a ponte e muitas mais figuras.

Com esta imagem na mente, há cinco anos resolvi começar a fazer esse mesmo presépio dos meus tempos de criança. Comprei musgo (já não é fácil encontrar o musgo como anteriormente), fui comprando as figuras, exactamente iguais às da minha infância e todos os anos vou acrescentando novas figuras e o meu presépio vai aumentando. Sempre preparado em família! É um verdadeiro ritual de que não abdico. Quando chego ao fim não me canso de o olhar e encontro, nele, a paz dos meus dias de criança.

Não é esse o verdadeiro significado de Natal? É tão simples e por vezes complicamos tanto. É pena que este sentimento não se viva ao longo do ano, seria tudo tão mais simples….

Com esta imagem do presépio me despeço, desejando a todos os que nos visitam a continuação de Boas Festas e desejo que o ano de 2011 seja vivido de forma mais intensa. Olhemos mais uns para os outros e encontremos o espírito de Natal mais vezes ao longo do ano.

UMA OUTRA VIAGEM À ÍNDIA – II




7 de Julho de 1497, final da tarde

O anel brasonado, o bigode retorcido nas pontas, o lenço em tafetá e uma pronúncia arrastada denunciavam as suas origens...era do Restelo.
Tio do Restelo (em conversa amena à porta dos “Pastéis de Belém” com Vasco da Gama e seu irmão Paulo) – Mas, ooouçam, em vez de irem por caminhos desconhecidos, o que é pouco confortável, por que razão não vão a Marrocos, que é já aqui ao lado?
Vasco da Gama – Mas, Tio, o que é que existe em Marrocos de especial (denunciando a sua pronúncia alentejana)?
Tio do Restelo – Muita caturreira! O Vasco já foi a Marraquexe? É o máximo! Fica próximo da Cordilheira do Atlas, tem óptimos hotéis, o maior Suq de Marrocos, muita agitação…E em vez de viajar só de barco, pode andar de camelo! Ó Paulo (com um gesto de quem chamava por alguém distante e um olhar sobranceiro)!
Paulo da Gama – Diga Tio (não esquecer, também, a pronúncia alentejana)!
Tio do Restelo – Já ´teve em Casablanca?
Paulo da Gama – Não, Tio!
Tio do Restelo – Então não sabe o que é booom! Aquelas praias, aquela marginal…e vocês com a teimosia de quererem ir à Índia! Essa caturrice é um horrooor!
Paulo da Gama (com gestos de quem pretende abraçar o mundo) – Nós queremos ver Bollywood! Somos Cinéfilos, somos assim, pronto!
Vasco da Gama – (repentinamente) Eu também quero conhecer o Taj Mahal!
Paulo da Gama – Uma das sete maravilhas do mundo! Aquele monumento é maravilhoso!
Vasco da Gama – …todo incrustado de pedras preciosas!
Paulo da Gama – (com um gesto supersónico) E eu quero ver os Pilares de ashoka!
Vasco da Gama – E eu as Grutas de Elephanta, em Mumbai!
Paulo da Gama – (ripostando) E eu Fatehpur Sikri, a cidade abandonada!
Tio do Restelo – Pronto, pronto, os piquenos é que sabem! Não há pachooooora! Eu, agora, já não tenho tempo p´ra mais nada, está na hora de ir jogar golfe! A Maria está ali à minha espera naquele carro eléctrico de última geração. Mariaaaaa, espere!

(TODO O RESTANTE TEXTO ESTÁ PUBLICADO NA PÁGINA INTITULADA, "FINAIS SUBVERSIVOS DE OBRAS CLÁSSICAS")

domingo, 26 de dezembro de 2010

CONVENTO DE MAFRA


Mais extraordinário do que contemplar a fachada principal do Convento de Mafra, onde se conjugam tonalidades de branco e amarelo, é escutar no interior daquele edifício majestoso, construído em pedra lioz, o "Adeste Fideles". A Basílica, dedicada a Nossa Senhora e Santo António, é extraordinária e a respectiva abóbada é majestosa como nenhuma outra. Por isso assistir à Missa do Galo naquele local é inesquecível!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

DEDICATÓRIA



É verdade que não morreu!... Todos assim à minha volta?!
Setenta e oito anos de eterna juventude. A jovialidade era, ao caso, uma auréola imediatamente perceptível, exuberante.
E aquele sorriso representava o Eterno Feminino, nuns lábios em tons de rosa que articulavam as palavras de uma forma muito própria.
Palavras ditas com classe!
É verdade que não morreu...porque é impensável que isso aconteça!
Aquele espírito é eterno, tão marcante como as pedras milenares. Vive o espírito numa terra que sempre foi a sua, apesar de lá não ter passado a maior parte da vida. Vive envolto pela maresia, em tardes de Inverno, aconchegado por quentes camisolas de lã branca. E paira nos promontórios onde as gaivotas nidificam e onde se perde de vista um imenso mar em tonalidades de azul e verde.
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Passa pela brancura das casas térreas, luminosas, envoltas em faixas de azul marinho... E está onde os barcos de pesca se vão afastando de terra até à linha do horizonte em movimentos sincopadamente belos.Essas eram e são as suas raízes!
É verdade que não morreu, por isso a vejo agora a sorrir!

domingo, 28 de novembro de 2010

UM OUTRO FINAL PARA AMOR DE PERDIÇÃO, DE CAMILO CASTELO BRANCO


O Outro Mundo seria o Paraíso, local de reencontro de Simão e Teresa. Esta, com apenas dezoito anos, faleceria ao romper da aurora, numa agonia terrível.
O jovem, filho de Domingos Botelho e Rita Preciosa, pereceria de febre maligna, no beliche do navio no qual embarcara para o exílio, desesperado por não ter podido casar com Teresa e tentando não perceber (geralmente olhava para o lado, ou assobiava), que Mariana o amava de uma forma lancinante.
Mariana atirar-se-ia ao mar, um pouco antes do cadáver de Simão ser lançado às profundezas do Atlântico. A filha de João da Cruz morreria perto de Simão e, à tona da água, surgiriam os testemunhos daquele amor mítico entre Simão e Teresa, em forma de correspondência.
ALTO AÍ!
As três personagens reunidas em consílio reivindicativo, deliberaram que o final desta novela de capa e espada não seria bem assim! Em carta formal indicada para o efeito, revelaram a Camilo a sua indisponibilidade para um fim tão trágico e hediondo. Isto, apesar de respeitarem as memórias da família Castelo Branco e, sobretudo, o autor.
Teresa, Mariana e Simão pretendiam assumir a grandeza e a vida de homónimos famosos. Assim, Simão emigrou para Madrid onde se tornou um extremo-esquerdo de renome. Sempre que transpunha os balneários do Vicente Calderon, o estádio vinha abaixo e os colchoneros não lhe poupavam elogios. As memórias de Teresa conservou-as em forma de tatuagem, no braço esquerdo. Mariana também emigrou, mas para o reino de Inglaterra, para Sherwood, onde casou com o famoso Robin Hood. Teresa ficou em Portugal, mas com um outro nome: Teresa de Leão. Seria a mãe do mítico Rei-Fundador!
A Camilo nada mais restou do que substituir Teresa, Mariana e Simão por outras personagens, copiando descaradamente as personagens de uma outra obra romântica. Assim, Eurico acabou por ser Simão, Teresa foi substituída por Hermengarda e Mariana por Pelágio.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ERRARE HUMANUM NON EST




Se Camões desse erros de ortografia, a primeira estância de Os Lusíadas teria sido escrita da seguinte forma:

“As armas e os barois acinalados,
Que da Ocidetal praia luzitana,
Por mares nunca dantes navegados
Paçaram inda além da Taprubana,
E em prigos e guerras isforçados
Mais do que prumetia a forssa umana,
E entre gente remota idificaram
Novo reino, que tanto sublimarão”

Por Luís Vás de Camois, iscrito, apóz dez anos de trabalho, numa obra ititulada Os Luzíadas

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

UMA OUTRA VIAGEM À ÍNDIA (A PARTIDA)




Colocou no nariz afilado os óculos de lentes grossas e redondas. Conseguia finalmente vislumbrar o Mosteiro dos Jerónimos, apesar de estar a cinco metros do luminoso edifício manuelino. Não…era para o outro lado!
Distraído, remexeu no bolso do gibão escarlate e de lá retirou um amarrotado pacote com uma dúzia de pastéis de Belém, que deglutiu com satisfação. Bolos crocantes como aqueles não havia!
O tornozelo esquerdo impediu-lhe a marcha em passo acelerado até à garbosa frota que reluzia no Tejo azul. No entanto uma sombra acastanhada denunciava a presença da Bérrio.
V.G – Então Nicolau Coelho, já haveis aspirado a proa o vosso navio? Haveis lavado os espelhos retrovisores? Haveis inspeccionado o radar? – Inquiriu, numa pronúncia alentejana que denunciava as suas origens. Estava intrigado, pois não ouvia o soar de qualquer voz humana. Voltou a limpar os óculos embaciados e conseguiu distinguir um carvalho frondoso diante do qual estancara. Raio de árvore!
Avançou, finalmente, para a S. Gabriel. A entrada foi penosa porque, por vezes, os seus passos não encontravam a superfície sólida da prancha de madeira.
A azáfama, ao redor da frota, era grande. Os marinheiros, num vaivém constante, traziam mantimentos para o interior da S. Gabriel: carne salgada, panquecas, pacotes de batata frita e umas quantas grades de cerveja, que cairiam que nem ginjas, quando assistissem às jogatanas do Benfica, em plasmas estrategicamente colocados para o efeito, na vetusta caravela.
Partiram do Restelo. Era sábado, 8 de Julho de 1497. O relógio de Vasco da Gama marcava cinco horas, vinte e sete minutos e trinta segundos. Enquanto o capitão acenava para os lados de Almada, o seu imediato interpelou-o:
Imediato – Senhor, afinal qual é o objectivo desta viagem?
V.G – Não sabeis?! Quero conhecer, pessoalmente, o grande pacifista Gandhi!
E continuou – Quero saber mais sobre a indústria cinematográfica indiana. Conhecer Bollywood! Conheceis?
Imediato – Só do “National Geografic", Senhor!
V.G – Que filmes! E que actores: Shahrukh Khan, Aishwarya Rai! Pois para lá chegarmos precisamos disto (apontando para uma bússola)! E disto (balestilha)! E mais disto (sextante)!
Apontava, com orgulho, para os mais recentes instrumentos de navegação, que brilhavam numa mesa de confecção sueca.
V.G – Hoje sou eu que conduzo – e dirigiu-se ao leme. A S. Gabriel fez então uma perigosa curva e a proa ainda chegou a roçar na Torre de Belém. Mas o ziguezague do navio-mor não confundiu as restantes embarcações, que serenas e em fila indiana se dirigiram rumo ao Oriente e à cidade de Calecut.

domingo, 21 de novembro de 2010

teste do 7º ano

A estudar:

I
Notícia/artigo de opinião
Entrevista
Carta formal e informal
Publicidade
Banda desenhada e cartoon

II
Nomes (subclasse)
Nomes (variação)
Subclasses do adjectivo e graus
Verbos (tempos do Indicativo e conjuntivo; formas nominais)

III
A Ilha do Tesouro, até ao último capítulo dado em aula.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

teste do 9º ano

I - Interpretação

Auto da Barca do Inferno até à cena do Enforcado.

II - Gramática
II.1 - Conjugação perifrástica
II.2 - Tempos compostos
II.3 - Verbos conjugados com o pronome
II.4 - Transformação voz activa/passiva
II.5 - processos fonéticos de transição
II.6 - análise morfológica de uma frase

III - Composição

Temas: Auto da Índia e/ou conto de Eça de Queiroz "Civilização".

domingo, 14 de novembro de 2010

INQUÉRITO/CONCURSO SOBRE FÁBULAS DE ESOPO


(Deixamos-te, mais abaixo, um inquérito para escolheres qual a fábula da tua preferência)

ESOPO (breve nota biográfica) - O autor terá presumivelmente vivido entre 620 a.C. e 560 a.C.. Não se sabe a sua terra de origem, provavelmente terá sido Samos, na actual Grécia. Heródoto considerou que Esopo teria tido uma morte violenta. Outros escritores chegam a negar a própria existência de Esopo. E, actualmente, chega-se a negar que as famosas fábulas não eram da sua autoria, mas sim recolhas de histórias de todo o mundo antigo. Na Idade Média existiram três colectâneas destas fábulas… cuja actualidade é indiscutível!

SELECÇÃO ALEATÓRIA

FÁBULA 30

Um veado a olhar para a água

Um veado estava a beber num charco, quando viu o seu próprio reflexo na água. “Ah!” - disse ele com admiração. “- Que magníficas hastes eu tenho e como se erguem graciosamente na minha cabeça! Contudo, tenho umas pernas pouco graciosas e sinto vergonha por serem tão compridas e feias.” Enquanto dizia estas palavras, o veado assustou-se com o alarido de uma matilha de cães. Depressa se afastou da água e correu pelos campos fora, deixando os cães e os caçadores para trás. Por fim, penetrou num bosque cerrado e teve a pouca sorte de entalar as hastes nos ramos. Não consegui mexer-se e, passado pouco tempo, os cães deram com ele. Vendo a morte próxima o pobre veado gemeu bem alto: “Que tolo que fui! Orgulhei-me das minhas hastes, que eram o meu defeito, e desprezei as minhas pernas, que eram a única coisa que me podia ter salvado!”

MORAL: muitas vezes fazemos juízes errados, preferindo artes que não passam de enfeites, às coisas que nos são realmente úteis.

FÁBULA 31

A serpente e a lima

Uma vez, uma serpente entrou na oficina de um ferreiro, encontrou uma lima e começou a lambê-la por curiosidade. Quanto mais a lambia, mais a lima se cobria de sangue. Quanto mais a lima se cobria de sangue, mais a serpente a lambia, julgando tolamente que era a lima que sangrava e que era ela que levava a sua avante. A serpente continuou a lamber até não mais poder e então atacou a lima com os dentes, mas a lima era muito forte para os dentes da serpente e, em breve, o bicho desistiu e foi-se embora.

MORAL: É uma loucura atacar os outros apenas para atacar a nossa raiva, quando, com isso, apenas nos ferimos a nós mesmos.

FÁBULA 79

A raposa e a rã

Uma rã saiu do charco e, trepando para um alto, anunciou a todos quantos ali estavam que podia curar todas as doenças. Fez um grande discurso, servindo-se de muitas palavras erradas e pouco usuais, que ninguém compreendia. Por fim, apareceu a raposa. “Ai, podes curar todas as doenças?”, perguntou. “Então, minha amiga, diz-me, por favor, como te propões curar os outros quando tu própria tens o queixo de rabeca, uma cara pálida e miserável e uma pele cheia de manchas?”

MORAL: Não devemos armar-nos em professores dos outros, quando nós próprios cometemos os mesmos erros.


FABULA 25

O boi e a rã

Um grande, enorme, boi estava a pastar no prado, quando uma rã mais as suas rãzinhas apareceram aos saltinhos. A rã saltou-se, pasmada com o grande boi, e depois, olhando para a sua prole disse: “vejam, meus filhos, que grande e monstruosa criatura! E, agora, olhem bem e vejam se eu não me faço ainda maior do que ela!” A rã respirou fundo e começou a inchar, a inchar, até que, finalmente, rebentou.

MORAL: Por orgulho, inveja e ambição, as pessoas julgam-se maiores do que são e consideram os outros inferiores. Os que assim se comportam acabam por dar um grande trambolhão.

BIBLIOGRAFIA: ESOPO, Fábulas, Publicações Europa-América, Lisboa, [s.d]

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

UM OUTRO FINAL PARA O CONTO "CIVILIZAÇÃO" DE EÇA DE QUEIRÓS


"Os arvoredos frondosos de Torges de um verde-vivo quase fluorescente, os riachos que espelhavam a exuberância das vinhas, os rochedos predominantemente graníticos, como que esculpidos pela própria mãe-natureza".Faltava algo naquele exercício de escrita realista, onde era notório existir uma sobrecarga de pormenores descritivos, que potenciavam o efeito do real, considerou Jacinto enquanto alisava o farto bigode.
E acrescentou ao razoado, escrito com incrível mestria, o voar e o zumbido de uma mosca.
Subitamente foi dominado por um tédio desmesurado. Sentia falta de todos os antigos aparelhómetros que faziam parte do recheio do Jasmineiro e que eram símbolos de uma civilização que recusara há algum tempo. Relembrava, com saudade, o telemóvel de última geração, o portátil que utilizava para escrever textos bucólicos, a PSP 2 com a qual se divertia em jogatanas demoradas em cenários multicolores.
Por outro lado, já tinha lido A Ilíada e ficara revoltado com a morte de Heitor, lera a História da Grécia, a muito custo, porque só possuía a versão em grego. Analisara criticamente o D. Quixote ao pé do moinho da sua herdade e, por fim, as Crónicas de Froissart.
A verdade é que sentia saudades de ler uma boa história em B.D e folhear, ao acaso, os inúmeros exemplares da sua hemeroteca.
Suspirava! Do mais fundo do seu ser ansiava por um cheeseburguer. Um bom cheeseburguer citadino, ladeado por batatas fritas, salada e pickles. Estava farto do caldo de galinha, da broa, do arroz com favas que o solicito Zé Brás lhe punha à frente.
E regressou! Apanhou, com uma urgência febril, o TGV no Poceirão. A extraordinária e rápida viagem terminou em Paris. Nessa tarde passeou calmamente na cosmopolita cidade, visitou o Louvre, rilhou um croissant frente ao Arco do Triunfo, foi à Opera e terminou o dia no "L´Ambroise", onde degustou um saboroso coq au vin.
O regresso ao Jasmineiro foi verdadeiramente épico e aí viveu "à grande e à francesa".

VIVE ET REGNA, FORTUNATE JACINTHE!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

FÚRIA DIVINA, por José Rodrigues dos Santos



Nesta obra.

O autor transporta o leitor até aos meandros da Al-Qaeda, recordando, de imediato, o 11 de Setembro e de como o mundo nunca mais foi o mesmo, desde então. Os terríveis e imprevistos acontecimentos que estão associados ao maior atentado ocorrido nos Estados Unidos, acabam por despoletar a imaginação de Rodrigues dos Santos, que potencia novos e imaginários conflitos relacionados com a Al-Qaeda.


No entanto existe uma novidade.

O protagonista é luso e chama-se Tomás de Noronha, um historiador e criptalista encarregue de decifrar um estranho código. Para tal foi abordado por uma operacional da CIA, Rebecca Scott que o leva até ao Afeganistão.



O muçulmano da história: Ahmed.

Este é um menino egípcio a quem o mullad Saad ensina o carácter pacífico do Islão. Mas aparece nas aulas da madrassa um novo professor, que lhe apresenta um Islão diferente, agressivo e intolerante. Ahmed vai crescer nestes ensinamentos e muda-se para Portugal. Em Lisboa vive incógnito, criticando tudo o que o rodeava. Mas tinha um destino a cumprir e esperava que chegasse o momento para agir.


Um momento crucial da intriga.

Tomás e Rebecca procuram desvendar a cifra que lhes atormentava o espírito,

6AYHAS1HA8RU.Uma pergunta se impõe, a partir deste momento, ao leitor: “É possível que a Al-Qaeda tenha a bomba atómica?”

A intriga vai-se adensando, no entanto, caberá ao leitor descobrir e “saborear” o que acontece a seguir...

Conclusão.

Este romance levanta uma questão que nos atormenta e que flagelou diariamente o mundo logo a seguir ao 11 de Setembro: a nossa segurança, a segurança pública, a segurança mundial. Que, aliás, se tornou quase numa fobia colectiva.

O autor.

José Rodrigues dos Santos agarra magistralmente o leitor à sua obra, utilizando uma escrita clara e fluida. Penetra, além disso, nos meandros do islamismo, procurando não emitir juízos de valor, mas apenas transmitir informações precisas e verídicas ao leitor. Recorre, inclusivamente, a um operacional da Al-Qaeda para que o mesmo reveja esta obra, afiançando da sua credibilidade. Estamos perante uma grande obra (até pelo número de páginas em causa) e acima de tudo um grande escritor que apresenta uma minúcia, clareza e empenho notórios, procurando interessar o leitor até ao fim da obra, através do”desenrolar do novelo” diegético.






domingo, 7 de novembro de 2010

A CONJUGAÇÃO PERIFRÁSTICA E O VELHO E O MAR




1 - Santiago ia começar a pescar (verbo auxiliar de valor inceptivo), quando um aeroplano passou sobre ele, rumo a Miami.

2 – Viver olhando as coisas belas (sobretudo as do mar), era o lema de Santiago.

3 – Estar a segurar a linha da sua cana de pesca, provocara no Velho um enorme desgaste físico.

4 – Devo continuar a tentar (verbo aspectual de valor durativo)! – pensou o Velho.

5 – Tenho de comer! (necessidade) – considerou o Velho, após muitas horas de um combate leal com o Peixe.

6 – Hei-de chegar à aldeia! (intenção de realização da acção) – prometeu o Velho para si mesmo.

7 – Ando a sofrer há vários dias e, agora, ainda terei de enfrentar estes galanos! (realização prolongada da acção)

8 – Vou estando como Deus quer! (realização gradual da acção) – disse para Manolim.

9 – Tenho de deixar de pescar! (verbo aspectual de valor pontual)

sábado, 6 de novembro de 2010

EM DEFESA DE O VELHO E O MAR


O Velho e o Mar não é um livro comum, mas antes um tratado implícito sobre a redacção de uma novela exemplar. E como fazê-lo? Seguindo o exemplo de Hemingway! Ou seja, utilizando poucas personagens, uma estrutura linear com o recurso pontual a analepses, uma linguagem simples que sirva a coerência narrativa e tudo isto em menos de 150 páginas (é crucial perceber que esta novela tem muito de autobiográfico, ou seja a mundividência do autor e alguns momentos da sua própria vivência estão lá presentes ). Todos estes ingredientes tornam a leitura muito interessante, fluente! E, como se costuma dizer (ou como o próprio Hemingway diria), as coisas simples são as melhores!
O conflito existente na diegése é, em simultâneo, extrínseco e intrínseco em relação ao protagonista. O Velho já não pescava há oitenta e quatro dias (antes já tivera uma situação semelhante) ! Assim, cabe a Santiago repor uma reputação construída ao longo de anos, fruto da sua competência, "das suas manhas". Considerava o velho pescador que "um homem pode ser destruído, mas não derrotado" (Hemingway, 2002: 9)e por isso reage. Solitário, pesca um enorme peixe "de listras purpúras", resiste aos tubarões que lhe devoram esse mesmo peixe, sempre com muita correcção, sempre com um código de honra que o orienta. De tal forma que considera o seu oponente marinho como um irmão, a quem muito respeita.
Na intriga existem frases marcantes (e elas são importantes nos grandes livros), mas há uma que determina tudo ou seja a alteração da forma como na aldeia consideravam o Velho e passo a citar: "Mas que peixe! - disse o proprietário. - Nunca se viu um peixe assim." (Hemingway, 2002: 129). Santiago tinha reposto a sua condição de grande pescador!
Do seu exemplo, da sua enorme coragem, resulta uma lição: para que se consiga "pescar um enome peixe" é preciso saber-se sofrer! Como diria Pessoa: "O super-homem é aquele que tiver maior capacidade de sofrimento!"
No final da história, Santiago volta a ser considerado por Manolim e por toda a aldeia como grande pescador e a felicidade do momento fá-lo sonhar com um episódio feliz passado em África: "O velho estava a sonhar com os leões" (Hemingway, 2002: 134).

RESTAURANTES E MENUS


Numa destas calendas foi lançado um desafio aos alunos: que fizessem um anúncio com todas as regras que lhe estão inerentes. O desafio não era de monta até que confirmaram, através de olhares incrédulos, que teriam de fazer um anúncio(e respectiva ementa) sobre um restaurante que tivesse um nome de um escritor. E, assim, surgiram alguns trabalhos...

RESTAURANTE ADOLFO CORREIA DA ROCHA
No Correia da Rocha há comida trasmontana todos os dias da semana!

Entrada: Tostas de pão ázimo com manteiga da montanha
Carne: Bichos fritos sob terra firme
Sobremesa: Mousse de Chocolate com fogo preso
Vinho: Tinto/branco da melhor vindima da criação do mundo

RESTAURANTE LUÍS VAZ DE CAMÕES
"Iguarias de além-mar"

Bebidas: vinho Lusíada; água natural; vinho do Porto à Adamastor
Sopas: sopa das sereias; sopa das naus
Pratos: pescada à poeta; sardinha na proa; bacalhau à Camões; arroz de polvo Boa Esperança; bife de vaca grelhado na nau
Sobremesa: musas de ovos;

RESTAURANTE EÇA DE QUEIRÓS
Um restaurante com pratos deliciosos, saborosos e baratos.

Sopa: caldo à Zé Brás
Pratos: Empadão dos três fidalgos; pata de porco à Frei Genebro; frango à Jacinto com arroz; peixe cozido entalado no elevador
Bebidas: vinho tinto de Obed; vinho branco de Torges; vinho envenenado à moda dos três irmãos; água do lago Tiberíade
Sobremesa: bolinhos à Eça

RESTAURANTE FERNANDO PESSOA
Venha ouvir Mafalda Veiga, enquanto se delicia com as melhores carnes, saladas e peixe, tudo a um preço acessível!

Pratos: bife à Pessoa; pescada à Alberto Caeiro; heterónimos de massa;

RESTAURANTE JÚLIO DINIS
Porque a Literatura também alimenta...

Pratos: cabrito à Pupilas do Senhor Reitor; vitela à Morgadinha dos Canaviais; leitão à moda da Família Inglesa

RESTAURANTE VERGÍLIO FERREIRA

Aperitivos: tostas com queijo da Serra e compota de Gouveia
Pratos do dia: sopa de palavras mágicas; galinha com batata doce

Ilha do Tesouro


CAPÍTULO III

1 - Descreve a dependência do "velho marinheiro" em relação ao rum.
2 - O que pretendiam os seus opositores?
3 - O que era, afinal, a "pinta preta"?
4 - O que aconteceu ao capitão no final deste capítulo e que efeitos teve esse acontecimento no narrador?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Auto da Índia - compreender a estrutura narrativa através de versos significativos

I - A EXPECTATIVA DA PARTIDA

CENA I

MOÇA(vv.1-2) Jesu! Jesu!que é ora isso?
É porque se parte a armada?
AMA (vv 3-4) Olhade a mal estreada!
Eu hei-de chorar por isso?
(vv 8-9) Por qual demo ou por qual gamo
ali má-hora chorarei?
(vv. 17-18) Dixeram-mo por mui certo
que é cert que fica cá.
MOÇA (vv. 20-21) Se eles já estão em Restelo
como pode vir a pêlo?

CENA II

AMA (monólogo) Deus me cumpra o que sonhei.

CENA III

MOÇA (vv. 47-48) Dai-me alvíssaras, Senhora,
já lá vai de foz em fora.

AMA (v. 54) Que chegada e que prazer!

(vv. 87-88) Pera que é envelhecer
esperando polo vento?
(v. 96) Quem sobe por essa escada?

CONTINUA...

BIBLIOGRAFIA: VICENTE, Gil, Auto da Índia, edição didáctica comentada por Mário Fiúza, Porto, 1979.

QUESTÕES SOBRE A ILHA DO TESOURO DE ROBERT LOUIS STEVENSON

CAPÍTULO I
1 – Como se chama o narrador? Caracteriza-o.

2 – Quem lhe pede que passe a escrito todas as aventuras relacionadas com a Ilha do tesouro?

3 – Descreve o marinheiro que se alojou na hospedaria “Almirante Benbow”.

4 – Que tipo de narrativas mereciam a preferência do “velho marinheiro”?

5 – Apesar de tudo “o velho marujo” era apreciado. Comenta.

6 – Quem acaba por ser, no início da narrativa, o seu opositor declarado?

CAPÍTULO II
1 – Neste capítulo surge uma nova personagem. Quem é?

2- Afinal qual acaba por ser o grande problema de Bill?

domingo, 24 de outubro de 2010

GRU, O MALDISPOSTO


Longe vai o tempo em que os criadores de animação tinham como primeira intenção expor uma visão maniqueísta do mundo (cf. "Branca de Neve e os Sete Anões"). De um lado os bons, do outro os maus, sem que houvesse espaço para que os maus tivessem momentos bons e vice-versa. James Finn Gardner, através dos seus "Contos Tradicionais Politicamente Correctos" trouxe a visão do cinzento (por exemplo na subversão do conto popular, que deu origem a uma animação, "Os Três Porquinhos e o Lobo Mau" ).
Em "Gru, o Maldisposto",a concepção maniqueísta também existe mas acaba por ter uma particularidade distinta. De facto, nesta animação produzida por Chris Melendrandi, acabam por ser três miúdas que fazem gerar, no malvado Gru, sentimentos de ternura e bondade, já que, entre os adultos, só existem Vectores ou Grus.
Este Gru, calvo e de nariz aquilino, é muito semelhante, em certa medida, ao Príncipe-Sapo de um famoso conto tradicional, ou ao Monstro que contracena com a Bela, num outro conto popular. Feio por fora, bonito por dentro... mas, em relação à beleza interior, só durante uma parte da sua existência fílmica! Para além da animação em 3D, este filme acaba por ser uma bela revelação da criança que existe em cada adulto.

SOBRE A LITERATURA...BALÍSTICA

De um amigo, professor de ....

"Uma das vantagens da criação literária é a de podermos arquitectar histórias, que até podem ser um espelho da realidade. Os visados apenas podem ter um pressentimento [e não o podem afirmar claramente] de que aquela história...é a sua história!"

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A TEORIA DO PRÉ-CINEMA É FUNDAMENTAL PARA QUE SE ENTENDAM AS CRÓNICAS DE FERNÃO LOPES

1- A teoria do pré-cinema
Recorrendo à teoria do pré-cinema, consegue-se entender um dos objectivos primordiais - o da propaganda ad eternum da Dinastia de Avis - que presidiu à elaboração da cronistica redigida por Fernão Lopes no longínquo século XV. Para que se perceba esta ideia há que começar por dizer o seguinte: estes textos são paraliterários, escritos num português medieval (onde proliferam, por exemplo, os hiatos), e são um retrato inequívoco da mundividência medieval, absolutamente dicotómica, que medeia entre o sagrado e o profano. Os escritos de Fernão Lopes estão repletos de acção (batalhas, cavalgadas, revoltas populares, assassínios atrozes, planos maquiavélicos), descrições físicas e psicológicas exímias das personagens, umas assumindo o papel de heróis outras o de vilões, bem como cenários interiores e exteriores. Os protagonistas são o primeiro rei da Dinastia de Avis, mas também os seus antecessores D. Pedro I e D. Fernando, secundados por personagens femininas como D. Inês, no primeiro caso e D. Leonor Teles no segundo.
D. Filipa de Lencastre acaba por ter um papel menor na Crónica de D. João I, sobretudo face à relevância de Leonor Teles na Crónica de D. Fernando e na de D. João I. Leonor é uma personagem que fica para sempre, verdadeiro paradigma da maldade.
Portanto estes textos têm à partida imensas potencialidades cinematográficas, até ao momento muito pouco exploradas, não só por terem intrigas e personagens interessantes, cinemáticas, mas também por serem um fresco da sociedade medieval portuguesa e um caso em que a realidade ultrapassa definitivamente a ficção.
A encomenda de D. Duarte a Fernão Lopes, a de cronicar o carismático reinado de seu pai e dos respectivos antecessores, tinha como grande objectivo deixar para a posteridade a descrição dos tempos difíceis relativos à Crise Dinástica de 1383-85, o modo como foram superados pela dupla imbatível D. João, Mestre de Avis e Nuno Álvares Pereira (o primeiro assumindo o papel do político versátil e o segundo o do militar imbatível), bem como a acalmia posterior. Enfim, a felicidade que permitiu refundar um reino que tinha sido, segundo concepção de Fernão Lopes, superiormente dirigido até ao reinado de D. Fernando. Assim, as três crónicas permitem ao leitor estabelecer um paralelo verdadeiramente estimulante entre os três reinados a que se reportam, e não é difícil concluir, com facilidade, que o de D. Fernando acaba por ser o mau exemplo para os reis posteriores e para o povo (pela sua fragilidade militar, pela forma como delapidou o tesouro real que tanto trabalho deu a juntar aos seus antecessores) que os mesmos iriam governar. O reinado de D. João I será, então, um grande exemplum…didáctico para a realeza que secundou D. Duarte e para a que com ele conviveu!
Mas de que forma poderá a referida teoria, ( que por vezes revela alguns excessos na sua concepção), contribuir decisivamente para que se entenda as crónicas do trabalhador incansável, que recebeu de D. Duarte uma tença para retratar, em pequenos capítulos (que iam sendo lidos na corte), o promissor começo da Dinastia de Avis?
Jorge Urrutia , catedrático espanhol, contribuiu para a definição desta teoria, a do cinema avant la lettre, porque descreveu o percurso da sua génese, o que permite um entendimento claro da mesma. Tese, essa, que teve como progenitores alguns autores francófonos e hispânicos. O nascimento tardio só foi confirmado no ano de 1936, mas depois esta teoria evoluiu como uma bola de neve. Uma ideia extraordinária (pela simplicidade que encerra) que reluziu em Reflexions sur la Literature da autoria de Albert Thibaudet, no já referido ano de 1936, onde se sublinha a preocupação humana, secular, de fixar (e esta é uma palavra-chave), pela palavra, a realidade circundante, já que as cameras de filmar são recentes.
Joaquin de Entrambasaguas, considerou, em 1954, que muitas obras literárias anteriores ao cinematógrafo, apresentam aspectos absolutamente filmáveis, porque o espírito que animou a sua redacção encerrava, inconscientemente, a expressão cinemática e, entre outros exemplos, refere os da Divina Comédia, Odisseia, Ilíada e Eneida. Esta ideia do autor espanhol é, sem dúvida, muito mais aplicável às crónicas, caleidoscópicas, do nosso Fernão Lopes. A propósito de expressão cinemática, nos textos do nosso cronista coexistem dois tipos de linguagem: a denotativa,através da qual as palavras apenas têm o seu valor real, reflectindo uma aproximação à realidade e uma outra,em muito menor grau, a conotativa, onde são evidentes os tropos. Por fim, existem as imperfeições medievais como os pleonasmos.
1955 e o tempo não pára! Este foi um ano mirabolante (para a evolução da nossa teoria) em que Pierre Francastel se questionou quanto ao facto de poder ter existido um cinema anterior ao mesmo, ou seja antes da invenção do próprio cinema. Afirmação fundamentalista é certo, mas que acaba por ser determinante para o entendimento e consolidação da teoria do pré-cinema.Entendia Francastel que, no passado, já tinha existido uma atitude pré-filmica operacionalizada através do modo de olhar a realidade circundante e de a fixar em texto.
Passados nove anos, Étienne Fuzellier teorizou o seguinte: desde Homero um grande número de escritores foram "visuais", reforçando as ideias de Joaquin Entrambasaguas;
Mais ainda, Fuzellier considerou que desde sempre existiram guionistas, segmentadores, montadores, que antecipam, através da palavra, a imagem. Esta é uma literatura, segundo o autor, que pretende “fazer ver”, uma literatura que é constituída por um repertório de obras que podem ser traduzidas por imagens. E são realmente muitas as obras que se enquadram neste pressuposto. A esses autores só faltou mesmo uma camera e, voltamos a dizer que Fernão Lopes é um deles.
A teoria continua a evoluir, a consolidar-se, e, pela primeira vez, através de Fuzellier, sugeriu-se que o Cinema e a Literatura coincidem na conformação dos géneros. Mas, eis que surge o exagero: alguns teóricos do pré-cinema, Fuzellier, Paul Leglise e outros, pretendiam, a determinada altura, que o ensino da literatura, as obras clássicas deveriam ser analisadas através de planos cinematográficos! Na realidade acaba por ser um trabalho interessante percebermos o “olhar de Virgílio” e delimitarmos os primeiros planos em que se enquadram Juno ou Eneias no primeiro livro da obra virgiliana, tal como o fez Paul Leglise, em 1958, no entanto este acaba por seu um percurso redutor.

2 - Adequação desta teoria aos Estudos literários Medievais
2.1 O Guionista
Existem semelhanças significativas entre a crónica lopesiana e o guião cinematográfico, ou televisivo da actualidade e semelhanças evidentes entre o trabalho do cronista e do guionista. Estes dois tipos de texto poderão conter, em simultâneo, personagens integradas em enredos, a narração de histórias dinâmicas e interessantes, conflitos declarados que conferem interesse à intriga, o uso do discurso directo, uma estrutura dramática conseguida, técnicas de gestão do tempo e uma linguagem simples e acessível ao leitor ao espectador. É possível, então, dizer-se que este Fernão Lopes poderá ser, afinal, um argumentista avant la lettre? O que é facto é que os seus textos, em função da sua intenção de deixar “filmes” dos reinados dos três reis em causa para a posteridade, acabam por estar muito próximos (sobretudo em relação à Crónica de D. João I) do que é o guião cinematográfico. Por isso, Fernão Lopes será, em nosso modesto entender, um pseudo-guionista com séculos de antecedência, facto que deriva da sua atitude pré-fílmica.
2.2 - O trabalho de montagem
Fernão Lopes procurou reproduzir a realidade histórica e a sua pena poderia corresponder a uma máquina de filmar. Poderia ser (imaginariamente) o cineasta ao serviço de D. Duarte. O que está aqui em causa é a importância do (seu) olhar, do modo como focaliza os acontecimentos. Contudo o que ele fez verdadeiramente bem – perdoe-se o anacronismo - foi um “trabalho de montagem”( dos testemunhos recolhidos, dos que viram os acontecimentos, por exemplo quando da batalha de Aljubarrota), mas de uma “montagem invisível” que procura encapotar a visão subjectiva da “camera de filmar”, ou da própria “montagem”. Este trabalho de Fernão Lopes foi o da recomposição do que escutou e leu. Convenhamos que acaba por ser um trabalho de filmagem, mas em segunda-mão. E o que filmou e remontou o cronista? Muita coisa! Para além dos reis de quem fala nas suas crónicas (e a sua "camera” acompanhou-os permanentemente), os ambientes cortesãos, as cidades do seu reino, o povo, os burgueses, a guerra com os castelhanos, as festas, as procissões, e muitos outros acontecimentos, ou seja “filma” (ou volta a “filmar”) os séculos XIV e XV em Portugal, desde o reinado de D. Pedro I.

domingo, 17 de outubro de 2010

TEACHING IS A WORK OF HEART

Hoje partilho convosco um sentimento que assola o meu espírito desde há alguns dias...

Eis a história:

Há alguns anos fui convidada pela responsável de um colégio, onde actualmente trabalho, para leccionar Inglês. O horário na outra escola onde trabalhava era compatível com o segundo e logo aceitei o desafio. Contudo, e de imediato, apoderou-se de mim algum receio: a tarefa era a de ensinar crianças do 1º ciclo e eu nunca o tinha feito. Confesso que já trabalhara com todas as faixas etárias, excepto com esta. E tive dúvidas se estaria preparada para o fazer.

Hoje reconheço, que estas crianças me conquistaram de imediato. Por isso não me canso de considerar que as crianças nos devolvem, duas vezes, aquilo que lhes damos, quer seja o bom quer o mau. Mas mesmo naqueles dias em que já venho cansada das anteriores tarefas e chego ao pé deles, aqueles sorrisos e abraços devolvem-me toda a energia necessária. Mesmo que no fim o dia a cabeça esteja cansada, o coração está cheio!

Partilho, então convosco a história de um dos meus alunos, a quem vou chamar António.

O António foi sempre o melhor estudante da turma em todos os níveis: brilhante desempenho, comportamento irrepreensível, atitude colaborante, era sempre o primeiro a levantar o dedo para participar todas as actividades realizadas. Respeitador das regras de sala de aula, nunca se levantava ou participava sem levantar o dedo para eu dar qualquer autorização. Esmerado, fazia todos os trabalhos de casa e participava diariamente nas aulas, de forma efusiva.

A certa altura o António mudou radicalmente o seu comportamento, não cumpria as regras estabelecidas, implicava com os colegas, estava distante e já não participava como antes. Logo verifiquei que algo se passava e perguntei à educadora que os acompanha na escola o que se passava. Ela disse-me que tinha havido um drama pessoal com um familiar muito próximo, um problema de saúde grave. E desde então o António nunca mais foi o mesmo. Tentei todas as estratégias, trabalhei individualmente com ele, tentei incutir-lhe o espírito do trabalho em grupo, falei com os pais e com ele, sempre dizendo à educadora (que também estava empenhada em ajudá-lo), que eu não ia desistir desta criança e tudo ia fazer para ter o [velho] António de volta. Por isso, ia ajudá-lo no que pudesse.

O António tornou-se muito calado e nunca falava desse familiar doente. Um dia, no final do ano lectivo anterior, fiquei a falar com ele no fim da aula. Ele, então, desabafou os receios que tinha no seu coração de criança: também se achava responsável pela situação. Falei permanentemente com ele, ajudei-o como pude, explicando-lhe a situação e ali não fui professora, mas senti-me um pouco a mãe daquele menino.

Passado algum tempo, no final da aula, falei desse familiar com ele, de repente ele começou a falar dele sem parar, e eu nunca o interrompi. Olhei para a educadora que os tinha vindo buscar às aulas e ambas percebemos o que tinha acontecido.

Abrira-se a caixa de Pandora! Ele falava, como nunca tinha falado, desse familiar.

Contudo, o António manteve o comportamento transgressivo no início deste ano lectivo. Uma vez mais, falei com a educadora, reforcei que ia continuar a lutar por ele, agora que já estava no 4ºano, queria tê-lo de volta, com o seu comportamento e atitude irrepreensíveis. Há duas aulas atrás, o António portou-se muito bem e, no fim, frente aos outros alunos, elogiei-o, disse-lhe que ele se tinha portado muito bem, que estava a ser o “velho” António e que eu estava muito orgulhosa dele. Respondeu-me com um sorriso!

Na última aula voltou a portar-se muito bem, participando muito mais activamente e senti que estava a ter o António de volta. No fim da aula falei com a educadora para lhe dizer que eu estava radiante, pois o António nas duas últimas aulas tinha estado muito melhor… até o elogiei! Ela respondeu-me: - Eu sei, professora. O António veio ter comigo, pegou na minha mão e disse-me com um sorriso que a Teacher o tinha elogiado muito. Não falámos, apenas olhamos uma para a outra e sorrimos, os nossos olhos iluminaram-se.

Espero amanhã ter o meu António de volta, a participar empenhado e atento! Não desisto nunca, basta um sorriso dele e de todos os Antónios para perceber que valeu a pena!

Cumpri a minha missão. É por isto que ensinar vale a pena hoje e sempre!

Teaching is a work of heart!

여러분의 방문에 감사드립니다

Sendo este um blogue aberto(por enquanto), temos tido algumas visitas curiosas. Durante a última semana de Setembro, um grupo de amigos sul-coreanos visualizou este blogue. É para eles que deixamos a mensagem inicial, esperando que o tradutor do google seja eficaz.
MUITO OBRIGADO PELA VOSSA VISITA!

AS CIDADES INVISÍVEIS, DE ITALO CALVINO

Nesta invulgar narrativa, pela existência de uma narrativa apresentada em fragmentos significativos, Marco Pólo maravilha o kublai kan com descrições de cidades do Ocidente…que apenas existem na sua imaginação.
Portanto, neste livro há que sublinhar dois aspectos fundamentais: o poder da narração, impulsionado pela imaginação do narrador e o exercício (soberbo) de concretizar múltiplas descrições literárias.
Falaremos, aqui, da descrição da cidade de Bauci (Calvino, 2009:83). Após uma caminhada de sete dias, chega-se à cidade que não se consegue ver. A cidade está suspensa numas andas e eleva-se acima das nuvens. Os habitantes podem descer delas por escadotes, mas preferem ficar lá em cima onde têm tudo. A verdade é que os habitantes de Bauci odeiam a Terra e contemplam-na através de binóculos, sentindo um fascínio pela sua ausência.

PERGUNTA: QUAL SERÁ A (FICCIONADA) MENSAGEM DE MARCO POLO A KUBLAI KAN (tenha-se em atenção que se pressente aqui a voz do autor)?

EXERCÍCIO: IMAGINAR UMA CIDADE, RECORRENDO A UM DELÍRIO IMAGINATIVO.

UM CONSELHO DE VISITA: MUSEU DE SÃO MIGUEL DE ODRINHAS

O Museu de São Miguel de Odrinhas, para além das bucólicas paisagens que o rodeiam, é exemplar em relação ao que deve ser o trabalho museológico, sendo um bom testemunho do mundo da Romanidade no território da antiga Lusitânia.
No seu espólio há que salientar a existência de sarcófagos etruscos e respectivas inscrições (lembram-se de Monserrate, dos sarcófagos que lá faltam?), bem como a existência de um número considerável de inscrições tumulares dos habitantes lusitano-romanos pertencentes à zona circundante a Olisipo (área rural). Estas lápides permitem constatar a preferência dos habitantes locais pela cremação, rejeitando a influência etrusca e cristã, que advogava a inumação.
Além disso, as inscrições lapidares permitem não só perpetuar a memória de alguém, mas revelam, também, importantes aspectos do quotidiano destes habitantes, como sejam os respectivos tria nomina, o ano em que faleceu um determinado habitante, a invocação aos deuses manes (antepassados), a tribo a que pertencia, quem mandou fazer a respectiva lápide e o seu poder económico (verificável pelo tamanho e riqueza da lápide).
O museu dinamiza interessantes actividades didácticas como sejam:
- “LITTERARUM DUCTUS, nesta actividade os alunos são convidados a escrever à maneira dos romanos, com tabuinhas enceradas e estiletes, inscrevendo o seu praenomen, nomen e cognomen nas tabuinhas previamente distribuídas;
- “OPERA MUSIVA”; depois da visita à villa (casa de campo) romana, cujo pavimento é revestido de mosaico, os alunos são ensinados na arte da construção do mosaico romano;

A vila romana exterior ao museu, a igreja (tradicional na zona e tão semelhante à da Terrugem), um pequeno jardim, a entrada do museu onde se destacam colunas clássicas,a escola de restauro mesmo em frente ao museu, a excelente biblioteca...enfim, tudo isto contribui para uma agradável visita, onde pontificam...O VERDE E O SILÊNCIO.

sábado, 16 de outubro de 2010

UM CONSELHO DE LEITURA: INÊS DE PORTUGAL

Referência bibliográfica: Aguiar, João, Inês de Portugal, 3ª ed., Leya editores, Alfragide, 2008.

Inês de Portugal é um livro invulgar: parte de uma experiência inversa em relação ao habitual. De facto, o filme antecipou a existência do livro, que teve por base o guião construído previamente. De forma que a obra, sofrendo a devida expansão literária, foi influenciada pelas técnicas do cinema, sobretudo o flash-back, utilizado repetidamente, bem como a técnica do corte e montagem que no livro é representada por hiatos na mancha gráfica.
No domínio da narrativa existe uma acção principal e outras secundárias que são apresentadas em sequências alternadas, (nomenclatura com origem em Bremond, cf. Reis, Dicionário de Narratologia, 2005: 376). A vantagem desta fuga à linearidade da acção, acentuada pelos flash-backs é a de surpreender e interessar o leitor, mostrando o passado feliz dos apaixonados, Pedro e Inês, passado que contrasta enormemente com a loucura de D.Pedro, num tempo presente.
O lirismo desta história é consolidado pelo processo figurativo com predominância na metáfora, não esquecendo que a própria história é paradigmática (sempre foi e sempre o será) em relação à paixão entre um homem e uma mulher, independentemente da respectiva condição. Trata-se de uma apologia ao amor, que se elevou à condição de mito o longo dos séculos.
Por outro lado, nesta ficção evoluem personagens desenquadradas historicamente, tal como Álvaro Pais (que teve importância declarada durante o reinado de D. Fernando, tendo sido, igualmente, um dos conspiradores da revolução que ocorreu, em 1383, nas ruas da cidade de Lisboa). No posfácio, Aguiar confirma a existência de uma liberdade ficcional, que lhe permitiu reinterpretar a focalização de Fernão Lopes e Rui de Pina:

“Inês de Portugal é um romance e não um ensaio de reconstituição histórica, embora na sua elaboração eu me tenha socorrido das crónicas de Fernão Lopes e Rui de Pina.” (Aguiar, 2008: 109)

Inês de Portugal tem como fonte principal a Crónica de D. Pedro I, designadamente os episódios relativos aos amores de Pedro e Inês, história trágica, narrada por Fernão Lopes, que termina com o casamento do herói com a amada já morta.
João de Aguiar arquitectou uma história pitoresca, transfigurando a visão histórica normativa presente na cronística medieval (geralmente favorável aos biografados); o insólito encontra-se, também, na desconstrução histórica de uma outra personagem: Afonso Madeira (caracterizado por Lopes de uma maneira absolutamente distinta);
POR TODAS ESTAS REFERÊNCIAS FICA UM CONSELHO: A LEITURA DO LIVRO E A VISÃO DO FILME...OU VICE-VERSA.

RESPOSTA AO DESAFIO EXISTENTE NO TEXTO ANTERIOR

Caros amigos,

O texto anterior foi um exercício realizado por Miguel Moedas, quando frequentou um curso de escrita criativa.

Surpreendidos?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

TEXTO "À CLEF", OU FICÇÃO?

Miguel Moedas (professor) enviou-nos o seguinte texto. Fica a pergunta para o leitor: trata-se de um texto de escrita lúdica ou de um texto confessional, autobiográfico,com base em personagens e situações reais, enfim uma catárse em prosa poética (aconselha-se a leitura de"Autopsicografia" para que se possa responder à questão)?

MÃE HÁ SÓ UMA
Não me peças para te amar como me amaste. Não me peças para te carregar como me carregaste.
Mãe és de alguém que eu já fui. Filha sou de alguém que já não és tu.
Morrestes tu para mim quando eu nasci. Morri eu para ti quando deste à luz. Ausentes ficámos, eu do teu tempo, tu do meu espaço. Moeda de troca para a felicidade alheia.
Deste-me um nome que não é o meu. Teu nome não sei que chamar.
Não sou a varanda solarenga que gostavas que fosse. Sou antes o sótão grande e escuro da tua alma.
Aquele sítio só teu onde comemoraste cada um dos meus aniversários. Onde imaginaste cada um dos meus sorrisos. Onde te angustiaste com cada um dos meus choros que nunca escutaste. Onde rezaste para que eu recuperasse das doenças que nunca tive.
Ferida aberta, pequena para albergar a infecção do teu remorso. Lugar onde cresce mais e mais a tua angústia, agora que fotocopias a tua velhice no espelho de cada manhã.
Não. Não me peças para te falar das netas que não tens e nas quais insistes em encontrar a menina que tantas vezes espreitaste, ao longe, e que nunca tiveste a coragem de reclamar. Só para ti. Só tua. A menina que não consolaste no dia em que ficou órfã da mãe que nunca teve. A menina que não protegeste da maldade do mundo. A menina que não ensinaste a ser mulher.
Estás fechada a cadeado na cave mais minúscula do meu coração. Parte de mim que eu não conheço e que todos os dias enterro mais fundo num ritual de esquecimento. Parte de mim que eu nunca tive, guardado na parte de ti que tu nunca terás.
Viajámos a vida em carruagens diferentes. Onde tu sais eu entrei, onde tu entraste eu saio. Cruzamo-nos sempre sem nunca nos encontrarmos, bilhete só de ida na mão. Olho para ti sem te ver. Tu vês-me sem me olhar. Faces diferentes da cegueira de almas gémeas condenadas por insolvência.
Esgrime os teus argumentos com a tua consciência. Só tu podes acusar-te e defender-te. Ajuíza-te em causa própria. Absolve-te e condena-te. Só tu podes perdoar-te a pena a que já te condenaste.
Expulsaste-me duplamente. De dentro de ti e para fora de ti. Vazia em dobro ficaste, abortada de amor.
Abandona-me agora que eu não te quero encontrar.
Mãe há só uma e não és tu.

Miguel Moedas

MATÉRIA PARA O TESTE DO 9º ANO

1 - LITERATURA PORTUGUESA/ESTUDOS LITERÁRIOS
Biografia de Gil Vicente
Bibliografia produzida pelo autor
Contextualização entre a obra produzida e a época
Referências literárias do dramaturgo
Manifestações teatrais pré-vicentinas
Autos, Farsas, Moralidades (definição)
Auto da Barca do Inferno – cenas I, II, III e IV (assunto)
Comparação entre Parvos vicentinos
Leitura e análise sumária de O Monólogo do Vaqueiro (em função da evolução do percurso teatral do autor e do respectivo mecenato)
Definição de alegoria e símbolo
Categorias da narrativa – personagens-tipo e personagens modeladas; caracterização directa e indirecta das personagens
Os três tipos de cómico existentes nos autos vicentinos; aplicação prática
Recursos retóricos relevantes nas peças de Mestre Gil: eufemismo, ironia e outros estudados em anos anteriores

2 – GRAMÁTICA
Revisões de anos anteriores – Morfologia e Sintaxe, em função da produção de textos coerentes, irrepreensíveis
Registos de Língua
História e evolução da Língua Portuguesa – palavras divergentes e convergentes, estrangeirismos, neologismos; Língua de Estrato, Substratos e Superstratos
Importância da Língua Portuguesa; variedades; dialectos
Evolução semântica de palavras (casos paradigmáticos)

3- OFICINA DE ESCRITA
Reacção a textos lúdicos de diferente tipologia: prosa poética; texto de opinião; descrição literária; resumo; textos não literários (noções da estrutura. Exemplo: cartas formais e informais; actas, etc.)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

JOGOS DE PORTUGUÊS

Entre vários livros onde existe uma abordagem lúdica da Língua, gostaríamos, desde já, de destacar um, “Entretenimentos de Português”, da autoria do Padre Linhares (cf. Linhares,1986:63). Mais tarde falaremos de outros, que muito nos dizem.
Nas páginas 62/63, desta compilação de textos, escritos em forma de diário, existe um interessante jogo sobre vozes de animais. Sendo assim, e para as dez primeiras vozes deixamos os respectivos verbos unipessoais. Em relação aos restantes fica o desafio para os leitores:

1 - Abutre (crocitar); avestruz (rugir); baleia (urrar); doninha (chiar); escaravelho (zunir); faisão (assobiar); flamingo (roncar); lagarto (farfalhar); pato-bravo (palrar); urso (fremir).

2 – Cobra (…); coelho (…); crocodilo (…); coruja (…); javali (...); águia (…); bezerro (…); gralha (…); gato (…); sapo (…).

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

HOLMES E A F.S

Após ter estado com Mr. Predicado Verbal, Holmes voltou a olhar de soslaio as notícias do dia e soltou um "Ah!" prolongado, enquanto se recostava no sofá de veludo azul.
- Não terá sido este rapto obra daquela misteriosa organização, a F.S? – inquiriu o meu amigo. Na verdade não perguntava, pensava, isso sim, em voz alta.
- Não, Holmes, essa organização que refere, a “Função Sintáctica” tem estado bastante serena. O seu chefe, o misterioso Vocativo (também conhecido por Ó) tem estado, sereno, nas praias de Southsea. O cérebro do grupo, o Sujeito Simples, tem estado omisso (ou subentendido) em New Forest. E depois aquele tipo terrível, o Predicado Nominal, de Liverpool, sempre acompanhado pelo Verbo Copulativo, tem estado entretido com os filhos: Ser, Estar, Ficar, Permanecer. Aquela prole não lhe dá um minuto de descanso, caro amigo!
Holmes ficou de repente absorto, quase catatónico. Levantou-se e, num ápice, gritou:
- Vamos a Croydon! Aí encontraremos, de certeza, um amigo que conheci na Boémia, Hans. O seu nome de código, entre agentes secretos, é Complemento Determinativo, ou Nome+de+Nome. É homem para nos dar as informações que pretendemos.
-Estranho nome –retorqui. Enquanto descia as escadas as imagens da minha estadia na Índia iam passando de relance no meu pensamento. O modo, o lugar, o tempo, a causa, o lugar foram circunstâncias que me levaram à terra de Mogli.Aí combati, aí exerci medicina. Aí era conhecido pelo aposto que me consagraram: Watson, o médico inglês, cura os seus doentes!
- Watson, cuidado com as escadas. Acorde, homem!
CONTINUA…

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

UMA ENIGMÁTICA AVENTURA DE SHERLOCK HOLMES

No Verão de 1889, dirigi-me a Baker Street. Antes de entrar, por volta das 20.00h, reparei na silhueta de Holmes que contratava com a luz dos seus aposentos. O célebre detective movia-se energicamente e, ao entrar na sala do seu apartamento, percebi que nem a minha entrada lhe retirara a concentração na tarefa que iniciara, nem a vontade de fumar com avidez o cachimbo que usava há anos. Remexia em livros e maços de papéis e murmurava, repetidamente, uma palavra que terminava em "iva". Estancou e, reconhecendo-me, cumprimentou o velho companheiro.
- Com tem passado, Watson? Vejo que a sua esposa tem estado fora, possivelmente na Cornualha e que o meu amigo tem almoçado à pressa.
- Mas, como é que adivinhou, Holmes?
- Ora, meu amigo, é visível para qualquer curioso que o vinco das suas calças está torto. Se reparar, no lado direito do seu casaco, encontra uma pequena nódoa amarela. Damn, Watson, você foi sempre tão calmo e ponderado!
- O seu poder de dedução é notável, Holmes! – Respondi.
- Mais ainda, tem uma batata frita no bolso direito do seu casaco.
- Bom, bom, Holmes – retorqui – isto começa a ser embaraçoso! Diga-me. Reparei, ao entrar, que estava nervoso, folheava livros, papéis…
- Sim – respondeu - recebi uma estranha carta. Queira ler em voz alta, por obséquio. A mensagem era esclarecedora.

“Caro, Sherlock Holmes

Como representante da imobiliária “Sintaxe”, queria consultá-lo acerca de um estranho desaparecimento, o da nossa melhor vendedora. O seu nome? Oração Coordenada Conclusiva! Sei que tem resolvido casos complicados em todo o mundo. Derrotou Moriarty! Por isso lhe peço que me receba hoje, 23 de Agosto de 1889, por volta das 20.30h”

Exactamente nesse momento ouviu-se um trote de cavalos e uma carruagem a parar. De lá saiu um cavalheiro, que subiu com energia ao primeiro andar, do nº 59, onde nos encontrávamos.
Holmes abriu a porta e logo se nos deparou um homem alto, que trazia na mão um chapéu alto de aba longa e um monóculo a condizer. Holmes indicou-lhe uma chaise longue.
- Tenha a bondade de se sentar. Com quem tenho a honra de falar?
- Predicado verbal. Mas pode só chamar-me de Mr. Predicado.
- Então o que tem para nos contar senhor Predicado…Verbal? – Inquiriu o meu amigo.
- Gostaria, em primeiro lugar, que mantivessem sigilo sobre o que vos vou contar. Pois, então, comecemos!
A nossa melhor empregada, Miss Oração Coordenada Conclusiva, desapareceu, misteriosamente, num castelo da Boémia, quando procurava vender o nosso melhor Kit: “Sujeito-Predicado-C.D-C.Ind-C.Circunstancial”.
Esta nossa empregada era uma mulher independente, geralmente acompanhava com uma amiga de infância, também ela Oração Coordenada e de uma outra familiar, de quem dependia inteiramente, a Conjunção “Portanto”. Esta última dotada de grande instabilidade psicológica, porque tanto pode ser”portanto”, como “logo” ou “por consequência”.
Ora, do nosso conjunto de vendedoras: a Oração Coordenada Copulativa, a Coordenada Adversativa e a Explicativa, nenhuma nos parece ter sido autora efectiva desse rapto inexplicável.
No entanto, desconfiamos de uma vendedora de uma outra firma rival: a Oração Subordinada Relativa sempre acompanhada do misterioso amigo, o Pronome Relativo…
SERÁ QUE HOLMES IRÁ RESOLVER ESTE TERRÍVEL MISTÉRIO?
CONTINUA!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

NEM UM SÓ DIA SEM ESCREVER UMA LINHA!

Nulla dies sine linea

É certo e sabido que a prática da escrita deve ser diária, permanente. Só assim se consegue textos estética e estruturalmente irrepreensíveis. Apeles, pintor grego na Jónia do século IV, considerava que o sucesso do seu trabalho provinha da ideia, própria, que o levava a não esquecer os seus deveres diários como pintor. Plínio revelou ao mundo o trabalho de Apeles, no seu livro História Natural, 35, 36. Todos os dias, o excelso pintor traçava linhas que delimitavam soberbas pinturas como a de Artemisa ou a de Herácles. Esta ideia, a da prática diária, é também frequente entre escritores e é conhecido que alguns (até) se levantam de madrugada para escrever, qual morcegos noctívagos.
Contudo, para além da maxima latina deixada em subtítulo, gostaríamos de vos referir uma outra: "Quis scribit bis legit", quem escreve lê duas vezes. Uma leitura sem posterior reflexão escrita, acaba por ser inócua.
Por toda esta...arte, nada de menosprezarmos os poetas! Nas suas Sátiras, I, 9, Juvenal, poeta romano, deixou, para a posteridade, uma outra frase célebre: "facit indignatio versum"...a indigação faz o verso. A indignação pode ser geradora da poesia!

domingo, 3 de outubro de 2010

1 - A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

(destinatários: alunos do 9º ano)


Palavras-chave e expressões para reflexão:
3000 a 6000 línguas que são faladas no mundo/ 283 línguas têm menos de mil falantes/ língua – conceito político, económico e cultural/ Mirandês: exemplo de uma língua minoritária em Portugal/ Línguas mais faladas no mundo – 1º Mandarim, 2º Hindi, 3º Inglês, 4º Espanhol, 5º Árabe, 6º Português/ Inglês como língua de comunicação/ línguas oficiais, francas e maternas/Português, língua nacional; Português com língua oficial: Angola, Moçambique, cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe e Macau/crioulos de origem portuguesa/variedades: variante Portuguesa do Brasil (características: vogais átonas pouco reduzidas – ex. partir; palatização de /t/ e /d/ - ex: tio, semivocalização de /l/ em final de sílaba - ex: animal; introdução de /i/ epentético – ex: capitura; utilização das formas casuais dos pronomes pessoais – ex: eu vi ele na rua; construção aspectual – ex: estava brincando; utilização de preposições – ex: foi na cidade; emprego dos verbos ter e haver – ex: tem fogo naquela casa; utilização de “você”; vocábulos de origem tupi: guri, capim, pipoca e de origem africana – moleque, miúdo, etc.

2- REGISTOS DE LÍNGUA

Palavras-chave e expressões para reflexão:
Registo corrente - norma - palavras e expressões simples – registo cuidado – pouco utilizado na oralidade, excepto em ocasiões solenes (ou em aulas de Língua Portuguesa!) vocabulário rebuscado – construção gramatical complexa - registo familiar – vocabulário simples, pouco variado – usado em família – registo popular – gira – calão – linguagem técnico-científica

Bibliografia:

GUERRA, João Augusto, Português, Ensino Recorrente, Porto Editora, Porto, 1998, p. 105
MATEUS, Maria Helena Mira, Colóquio ”Portugal e as Línguas estrangeiras no século XXI”, Universidade de Lisboa, 3 de Novembro de 2008
PINTO, José Castro et alii, Gramática do Português Moderno, 3ª edição, Plátano Editora, Lisboa, 1995

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar, de Luís Sepúlveda

1 – O RESUMO

O autor chileno apresenta-nos a história de um gato grande e gordo e de uma gaivota, Kengah, que é apanhada por uma maré negra de petróleo e que, às portas da morte, após pôr um ovo, obriga o seu novo amigo, Zorbas, a prometer-lhe que não o comerá, que criará a sua cria e a ensinará a voar.

Para esta tarefa, Zorbas, o gato, vai necessitar da ajuda dos seus amigos, outros gatos habituados à vida dura do porto de Hamburgo (é de lembrar que Sepúlveda esteve refugiado na Alemanha, ele que foi sempre um activista político), Secretário, Sabetudo, Barlavento e Colonello. Zorbas vai cumprir a sua promessa até ao fim, pois o seu código de honra – o dos gatos do porto - assim o exige. A tarefa é árdua, mas Zorbas não desiste. Ele vai chocar o ovo até a pequena gaivota nascer, alimenta-a, procurando insectos e protege-a de uma ratazana que a quer comer. Chamou-a Ditosa e restava, agora, a última e mais difícil tarefa, ensiná-la a voar.

Zorbas precisa da ajuda de um humano, decide então falar com um humano e o escolhido é “O Poeta” (Sepúlveda começou por ser um poeta e mais tarde tornou-se prosador. No entanto, neste livro a poesia está omnipresente). Após o susto inicial, por ver que Zorbas conseguia falar com ele, ou como o gato dizia "miar na língua dos humanos", o humano ajuda o gato e ambos conseguem que Ditosa voe.

Luís Sepúlveda apresenta-nos uma fábula onde o Homem é criticado pelo seu papel de destruidor do meio ambiente. De assinalar que o próprio autor foi activista do Greenpeace, pelo que a acção nefasta do homem na natureza é assinalada com veemência (tenha-se em conta a catástrofe inicial, a morte de Kengah).

Contudo, a mensagem principal do autor está resumida na última frase de Zorbas: “Que só voa quem se atreve a fazê-lo”… e os poetas vão sempre mais além.

Uma obra cuja leitura é aconselhável a jovens e adultos (é de relembrar que os leitores/destinatários de Esopo…eram sobretudo adultos), e que nos faz pensar no nosso papel no universo, alertando-nos para os verdadeiros valores, por vezes tão esquecidos: a convivência entre seres distintos (gatos/gaivotas/”poetas”), a preservação da natureza.

MEHR LICHT!

Johann Wolfgang von Goethe, romântico alemão, murmurou um esclarecedor pedido ao morrer. Esse pedido como que ecoou, a partir da cidade de Weimar, para todo o mundo: - MEHR LICHT! Pedia o sábio alemão que abrissem uma janela para entrar mais claridade, aparentemente uma simples alusão própria do quotidiano do escritor. Contudo, a mensagem que está subjacente a este pedido é a seguinte: "Mais instrução, mais saber, mais verdade!".

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Intertextualidade...

Estabelecer uma comparação entre O Onzeneiro (personagem de "Auto da Barca do Inferno") e Ebenezer Scrooge, protagonista de "A Christmas Carol", ficção da autoria de Charles Dickens.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

1. A influência de Galaaz em Nuno Álvares

Sabe-se que na livraria de D. Duarte existia um exemplar intitulado O Livro de Galaaz, cujo protagonista, Galaaz, era filho de Lançarote e Helena. Ora D. Duarte foi contemporâneo de Nuno Álvares e este teve à sua disposição o livro que tanto o influenciou !
Comecemos por perceber a origem sagrada de Galaaz: Helena era filha do rei Peles, estando este ligado genealogicamente ao rei David e a José de Arimateia. Na posse de José estivera o Graal, através do qual se alimentara durante a sua reclusão, bebendo do sangue de Cristo.
E o contraponto, a origem maligna: Lançarote envolveu-se com Genevra, mulher do rei Artur. Consciente da traição, Lançarote anteviu a sua entrada no Inferno, sonhando com Genevra, desnuda, assumindo a sua condição de pecadora. No meio do fogo, Genevra, ao esticar a sua língua ardente, assumia-se como reencarnação do próprio Diabo, devido ao pecado capital que cometera, o adultério .
Galaaz era, apesar de ter uma veia maligna proveniente da sua genealogia, o cavaleiro eleito, a projecção de Cristo na Terra, com dotes paranormais. De facto, foi o único a conseguir sentar-se na "sedia perigosa" e, tendo sido convidado a tirar a espada do “padrão”, fê-lo como se nada fosse.
Uma curiosidade: Rita Costa Gomes, biógrafa de D. Fernando, considerou que, para além da influência que estas narrativas nórdicas (e especialmente a figura de Galaaz) exerceram na personalidade de Nuno Álvares, também influenciaram um outro herói adiado, D. João de Castro. Segundo a autora: “a coragem do infante D. João de Castro reflectida na caça ao urso e porco-bravo tinha influências do ciclo arturiano, sendo este familiar à nobreza de então”. (Gomes, 2005: 93)
Nuno Álvares Pereira procurou seguir o exemplo de Galaaz, imitando-o nos dotes guerreiros, procurando a honra que a cavalaria proporcionava, já que um fidalgo só era digno do seu nome quando tivesse passado por inúmeras aventuras. Devia, além disso, procurar manter-se virginal, privilegiando o amor a Cristo. Assim, na Crónica do Condestabre renasce um novo Galaaz, que serviria de modelo aos vindouros. Nuno tinha todos os motivos para encarnar este papel: um pai que era Prior do Hospital e a mãe, Iria Gonçalves de Carvalhal, que depois de ter dado à luz, viveu em caridade e abstinência (Cortesão, 1992: 16-17). A maternal Iria, que esteve ao lado de Nuno na defesa do partido liderado pelo Mestre de Avis, orientou grande parte da vida do filho para a abstinência sexual, exemplo que este aproveitou. Na Crónica de D. João I percebe-se quem era esta mulher: “E esta foi mui nobre dona quamto a Deos e ao mundo, vivendo em gramde castidade e abstinençia, fazemdo muitas esmolas e gramdes jejuns, nom comendo carne nem bevemdo vinho per espaço de quarenta annos.”
A influência de Galaaz em Nuno Álvares começou por ter origem na infância, altura em que as histórias de Galaaz e dos cavaleiros da Távola Redonda lhe eram lidas na corte. Atente-se na Crónica de D. João I, que parafraseia o Livro de Linhagens dos fidalgos, no capítulo vinte e um, paragrafo undécimo: “(…) desi cavallgar a mõte e a caça, nom emtemdendo em amor de nenhuma molher, nem tamsoomente lhe viinha per maginaçom; mas liia ameude per livros destorias, espeçiallmente da Estoria de Galaaz que falla da Tavolla Redomda. E porque em ellas achava, que per virtude de virgindade Gallaaz acabara gramdes e notavees feitos, que outros acabar no podiam, desejava muito de o semelhar em alguma guisa; e muitas vezes cuidava em ssi, de seer virgem se lho Deos guisasse.”

Um percurso de visita pela Zona Oeste: "BuddhaEden" e Castelo de Óbidos

Rodeado por uma extensa zona vinícola, a perder de vista, o viajante encontra um traço exótico na paisagem,o BuddhaEden, repleto de estátuas em tons de branco, vermelho e dourado que emergem numa extensa mata, onde predomina o sobreiro . Vale a pena visitar o valioso e exótico jardim que colocou a zona do Bombarral na rota (obrigatória) do turismo cultural neste país à beira-mar plantado.
De facto, tão próximo de Óbidos está o BuddhaEden, que se pode planear uma visita aos dois locais tão enriquecedores, mas, ao mesmo tempo, tão distintos. Óbidos faz reviver o Portugal medievo a quem se aproxima desta localidade, vindo de Lisboa pela A8. O viajante parece que se teletransporta para uma época em que os burgos amuralhados dominavam a paisagem.
Quando se visita pela primeira vez o exótico jardim, fica-se surpreendido pelos gigantescos buddhas e pelas filas de soldados, coloridos, em terracota.
Contudo, o único folheto informativo sobre o local é parco em informações. Portanto, caros amigos, toca a pesquisar primeiro sobre a História da China, para que se evitem comentários como os seguintes:

-Olha, olha, estes [soldados] estiveram na guerra entre Portugal e Espanha!
-Olha aqueles pezinhos tão amarelinhos!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre uma adaptação do conto "O Tesouro" de Eça de Queirós

É impensável que numa adaptação didáctica do conto "O Tesouro", de Eça de Queirós, exista um esquecimento surpreendente: o dístico árabe, prenúncio de uma maldição que leva à morte dos três protagonistas, Rui, Guanes e Rostabal.
Este pormenor é tão fundamental para o desenrolar da intriga, (onde existe um nítido traço de fatalismo) que, sem a sua presença, quase não vale a pena contar esta história de morte e ambição, que tem como cenário de fundo um dos reinos ibéricos, durante a Baixa Idade Média.

domingo, 26 de setembro de 2010

UM DESAFIO SOBRE SHAKESPEARE, por Sandra Marques

As olheiras marcam o olhar deste homem. O seu gesto é ponderado, a sua voz poderosa, trágica.

- Como se chama?
- William. William Shakespeare!
- William, o que o levou a deixar Stratford, optando por Londres?
- Gostei muito de Stratford, do seu clima, da “Grammar School”…de Anne Hathaway. Foi aí que nasceram os meus dois gémeos, Judith e Hamnet, bem como a minha pequenota, Susanna. Mas sabe como é, Londres é sempre Londres!

O dramaturgo retira os fones, dos quais se escuta, quase em surdina, a "Suite nº 3 de Bach". Alisa, entretanto, a extensa pêra que lhe cobre parte do rosto (“Shakespear(e)”).
A mão nervosa folheia um livro de Ovídio. Ao longe avista-se Marlowe, apressado.

- O que o levou a ser actor?
- Sabe, sempre fui um actor na verdadeira asserção da palavra. Mas decorreram alguns anos até me decidir. Na minha mente existia a dúvida: `Ser ou não ser eís a questão`. “Henry VI” obteve grande êxito. A Rainha gostou do meu trabalho e tudo evoluiu num ápice! Fundei, depois, uma companhia de teatro, “Lord Chamberlain´s Men”…que tinha os melhores actores do Reino, o Richard, William Kempe.
- Escreveu comédias, mas também tragédias no final dos anos 90…
- Por essa altura, reflectia-se na sociedade um sentimento de grande pessimismo. Depois, os problemas pessoais…
- Que pergunta gostaria de deixar aos nossos leitores?

- A SEGUINTE: QUAL DAS MINHAS PEÇAS É QUE VOS AGRADA MAIS? NÃO SE ESQUEÇAM DE FUNDAMENTAR A VOSSA OPINIÃO!

sábado, 25 de setembro de 2010

AFINAL O PARAÍSO TERRENO TEM NOME: MONSERRATE

Palavras-chave: ingleses; William Beckford; Francis Cook; Lord Byron; influências indianas; Romantismo; ruínas; jardins exóticos; DESCRIÇÃO LITERÁRIA.

Na entrada a Quimera, prenúncio de todo o exotismo que surpreende quem visita pela primeira vez estes jardins. Virando à esquerda, a vegetação cerrada num ambiente húmido e com várias tonalidades de verde. O granito milenar compõe o quadro, onde predomina a serenidade e a paz. As múltiplas fontes, tanques e cascatas são verdadeiros sonoplastas que fazem alternar o ruído e o silêncio. É tudo esmagador!
As pseudo-ruínas de uma capela, nicho de três sarcófagos etruscos (actualmente no Museu de Odrinhas), remetem o visitante para uma época histórica, o Romantismo e o século XIX. Quem entra nessa capela sente o mistério. Mais abaixo, abre-se toda esta densa vegetação em clareiras inacreditáveis, paradisíacas: o Jardim do México, o primeiro relvado plantado em Portugal. No topo da colina o exótico palácio de Monserrate, rodeado de exóticas árvores, provenientes da China, Japão, Austrália…
Figueiras, Plátanos, Palmeiras, Ciprestes, Pinheiro de Norfolk, Gingko Biloba, numa irmandade verde, com tons mais ou menos suaves.
O geométrico palácio adornado de painéis indianos de alabastro, colunas de mármore rosa, arcos góticos, tectos surpreendentes, os retratos de Francis Cook e da esposa numa biblioteca forrada com estantes de nogueira, faz desejar ao visitante que a visita se eternize.
À saída do palácio, a fonte de Tritão e (mais) um delicioso tanque com peixes e amenos sons de uma cascata. À direita a cafetaria, funcional, onde sobressai, em primeiro lugar uma calma esplanada.
Antes da saída um falso monumento pré-histórico, fruto da imaginação de Beckford.

Uma visita inesquecível!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PASTICHE DE UMA NOTÍCIA (in, "A Bola", 23 de Setembro de 2010, p. 24)

(Destinatários: alunos do 9º ano)

Palavras-chave: pastiche (pesquisa do significado); "Auto da barca do Inferno"; "Auto da Índia"; notícia

GRANDE JOGO EM BARCELOS

GIL VICENTE TENTA A SUBIDA, DESDE QUE DESCEU DE DIVISÃO EM 2006

Depois de ter obtido duas vitórias em dois importantes jogos, o Gil Vicente é líder isolado do campeonato da Segunda Liga. Tudo isto graças ao seu novo técnico, Manuel.
Esta semana, o Gil Vicente irá defrontar, no palco de Barcelos, e para a taça intertoto,o seu adversário castelhano, F.C de Encina. O encontro será arbitrado por João, o terceiro... árbitro do seu distrito, com o mesmo nome.
O Gil Vicente alinhará com Joanantão na baliza. A defesa será composta por Joane, o Onzeneiro, D. Anrique e Babriel. No meio-campo evoluirão o Procurador, o Corregedor, Cavaleiro 1 e Cavaleiro 2. Na frente, as duas mais recentes aquisições: Lemos e o Castelhano.
Manuel, o primeiro... treinador de Barcelos, agendou treino para hoje e só no final do dia dará a conhecer a convocatória.

NOMES LATINOS DE LEGUMES, FLORES E FRUTOS

Legumes

Alface – Lactuca
Feijão - Phaseolus Vulgaris
Pepino - Cucumis Sativus
Cebolinho - Allium Sholnoprasum
Cenoura - Carota
Rabanete - Raphanus Sativus
Ervilha do Jardim – Pisum Sativum
Alho-Porro – Allium Porrum
Espinafre – Lucullus
Ervilha-de-Cheiro – Lathyrus Adoratus
Couve – Brassica
Nabo – Napus

Flores

Rosa - rosa
Margarida – Bellis
Cravo – Dianthus Caryophyllus
Girassol – Helianthus annus
Lírio - lilium

Frutos

Melão - Cucumis Melo
Uva - Uva
Maçã – Malum
Pêra – Pirum
Morango – Fragum
Laranja – Malum Arantium
Limão – Malum Citreum
Figo – Ficus
Banana – Ariena
Pêssego – malum Persicum

Nomes Científicos de Animais

O Latim é utilizado na nomenclatura científica de carácter zoológico, como se pode constatar a seguir:
Albatroz errante – Diomedea exulans (Exulans- que exila)
Cisne negro – Cygnus atratus (atratus- enegrecido)
Corvo – Corvus corax (corax–corvo)
Gorila – Gorilla gorilla
Jaguar – Panthera onça
Lince Ibérico – Lynx pardina
Lobo – Canis lúpus lúpus (cão lobo, lobo)
Orca – Orcinus orca
Tigre – Panthera tigris (tigris- tigre)
Tubarão branco – Carcharodon carcharias
Urso polar – Ursus maritimus (urso marítimo)
Viúva negra – Latrodectus mactans (mactans- que mata)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PARVOS - II

O parvo Joane (farsa “O Velho da Horta”, 1512) - Comparativamente com o Joane do “Auto da Barca do Inferno”, este Parvo, conquanto não distinga bem a realidade que está para além do seu pensamento limitado, não ofende, não pragueja, não utiliza termos escatológicos, exibindo um comportamento muito próximo da normalidade. A situação cómica onde intervém, surge quando a mando da “dona” tentar convencer o marido desta, um Velho, do qual era criado, a ir jantar. Este Velho, apaixonado, suspirava pela Moça que o tinha ido visitar (afinal seria ele o verdadeiro Parvo!).
Além de tudo, este Parvo, de nome Joane (nome característico de Parvos durante o século XVI), apresenta outros recursos. Assim, é um Parvo que sabe tocar viola, revelando apetências surpreendentes. Não compreende, ainda, porque o Velho não se sente tentado a degustar um suculento jantar, mostrando-se, assim, bastante alheado em relação à realidade circundante.

Hum Parvo (Tragicomédia Frágua de Amor, 1525)- comparativamente com outras peças de Gil Vicente, neste auto o Parvo representa um papel de curta duração. A determinada altura e no curto diálogo encetado, provoca uma confusão linguística ao trocar o termo “tinta” por “trinta”, revelando ser pevidoso.

Joane, o parvo (Auto da Barca do Inferno, 1517) – é a personagem que evidencia, neste auto, os três tipos de cómico, mas, sobretudo, o de carácter, agindo sempre como uma criança grande.
O cómico de situação ocorre (na cena em que é protagonista e intervém para julgamento do Diabo e do Anjo) quando pergunta ao primeiro se deverá entrar no batel infernal… de pulo ou de voo. O cómico de linguagem está evidente quando utiliza um vasto reportório linguístico que contribui para a sua eficácia em palco. Na verdade, o seu discurso é elíptico, faz uso de termos escatológicos e obscenidades. Autocaracteriza-se e caracteriza, ainda, outras personagens de forma acutilante, azeda, mas ao mesmo tempo inocente, tais como o Frade, o Corregedor e o Judeu, constituindo-se como um poderoso adjuvante de duas entidades antagónicas, o Anjo e o Diabo.
A sua “simpreza”, tão apreciada entre os católicos, entre os quais se encontram Gil Vicente e os próprios reis (conjuntamente com o rei D. Manuel I e a rainha D. Leonor, são os leitores/espectadores ideais desta moralidade), e o facto de não ter “errado per malícia”, são contributos inigualáveis para a sua entrada no Éden, ficando a aguardar, ao longo da peça, que chegue esse momento.

PARVOS -I

Exercício: comparar os Parvos dos diferentes autos de Gil Vicente.

O parvo Joane (Auto da Fama, 1510), personagem masculina, auxilia uma moça de nome Fama a qual será pretendida pela França, Itália e Castela, mas só o reino Português a merecerá. Nesta farsa, o parvo Joane apresenta características comuns a outros autos, nomeadamente a preguiça e por “sonhar que era tolo” sonhava com o céu de Deus. Além disto, enquanto a Moça conduz as patas a preceito, tratando-as de “meninas fermosas”, o Parvo condu-las de forma enlouquecida, desejando que a raposa as mate ou que se afoguem, já que estas lhe dão imenso trabalho. Utiliza o palavrão, pragas, e interpela sobretudo o pretendente francês tentando afastá-lo, o que pode ser ilustrado pela seguinte expressão: “”Hou Franchinote, fora, fora…” .


O parvo Joane (Auto Pastoril Português, 1523), personagem masculina, neste auto adquire uma relevância pouco habitual, já que o diálogo entre ele e uma pastora de nome Catherina é bastante prolongado e centralizador. Joane, aliás, revela-se inicialmente enamorado desta pastora, apresentando uma linguagem mais próxima da norma de então (inquere inclusivamente a pastora sobre se alguém a importuna, a engana). Enfim, um linguarejar mais reflexivo do que é habitual num Parvo. Supostamente apaixonado, proclama: “Sempre eu hei de ser comtego/Lá detrás da casa ó sol.”, num assomo quase poético. No entanto, nem todos as características do parvo anedótico estão arredias desta personagem, pois, afinal, numa fase posterior confessa que por ela “subiu à pereira” e que “Eu não quero de ti nada/Senão abraçar como amiga”, para depois e num jogo de sedução intrigante e revelador de uma densidade psicológica acentuada, confessar que “Porque as lágrimas me sãe/O dia que te não vejo” e projecta para Catherina ser “bem toucada”. Como esta o rejeita, o parvo questiona: “A Índia não está hi?”. Afinal se ele soubesse desta rejeição nunca lhe teria dado a roca que trouxera de Santarém. Depois deste diálogo surgem pastores e pastoras que procuram casar o Parvo.

O Parvo (Floresta de Enganos, 1536), personagem masculina, sem nome aparente, preguiçoso (tem como projecto dormir “quatro ou cinco meses”), servil (trata o filósofo por amo), revela em simultâneo a inconsciência própria dos parvos e utiliza um bordão, a interjeição “Apihá”. O filósofo adverte-o por isto: “te vas del abrigo/Al perigo que no sientes”.
Este Parvo, que representa a pureza, a ingenuidade, revela-se como um precioso contraponto face à gnosiologia que é apanágio do Filósofo. Será a condenação da pretensa arrogância deste representante do saber que é aqui posta em causa, de tal forma que este trará acorrentado “hasta el morrir” aquele que classifica de “necio” e de “bobo”.

Um Parvo (Auto da Festa), personagem masculina, apologista da sesta, revela-se preponderante neste auto pelo protagonismo que assume. A Verdade, uma personagem alegórica, reconhece em relação a este parvo que: “…aquele rei jocundo/o privou dos bens do mundo/que lhe dará o do céo.” Está aqui bem patente a condenação dos bens materiais, bem como a apologia da pobreza e da simplicidade, que proporcionam o paraíso. Porteiro neste quadro alegórico que é o céu, confronta-se com a sua própria mãe, uma velha, que, cruel, lhe revela que em má hora o pariu, o viu e o criou, porque ele a “envelhetou” e afinal ela não é tão velha como isso.