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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PARVOS - II

O parvo Joane (farsa “O Velho da Horta”, 1512) - Comparativamente com o Joane do “Auto da Barca do Inferno”, este Parvo, conquanto não distinga bem a realidade que está para além do seu pensamento limitado, não ofende, não pragueja, não utiliza termos escatológicos, exibindo um comportamento muito próximo da normalidade. A situação cómica onde intervém, surge quando a mando da “dona” tentar convencer o marido desta, um Velho, do qual era criado, a ir jantar. Este Velho, apaixonado, suspirava pela Moça que o tinha ido visitar (afinal seria ele o verdadeiro Parvo!).
Além de tudo, este Parvo, de nome Joane (nome característico de Parvos durante o século XVI), apresenta outros recursos. Assim, é um Parvo que sabe tocar viola, revelando apetências surpreendentes. Não compreende, ainda, porque o Velho não se sente tentado a degustar um suculento jantar, mostrando-se, assim, bastante alheado em relação à realidade circundante.

Hum Parvo (Tragicomédia Frágua de Amor, 1525)- comparativamente com outras peças de Gil Vicente, neste auto o Parvo representa um papel de curta duração. A determinada altura e no curto diálogo encetado, provoca uma confusão linguística ao trocar o termo “tinta” por “trinta”, revelando ser pevidoso.

Joane, o parvo (Auto da Barca do Inferno, 1517) – é a personagem que evidencia, neste auto, os três tipos de cómico, mas, sobretudo, o de carácter, agindo sempre como uma criança grande.
O cómico de situação ocorre (na cena em que é protagonista e intervém para julgamento do Diabo e do Anjo) quando pergunta ao primeiro se deverá entrar no batel infernal… de pulo ou de voo. O cómico de linguagem está evidente quando utiliza um vasto reportório linguístico que contribui para a sua eficácia em palco. Na verdade, o seu discurso é elíptico, faz uso de termos escatológicos e obscenidades. Autocaracteriza-se e caracteriza, ainda, outras personagens de forma acutilante, azeda, mas ao mesmo tempo inocente, tais como o Frade, o Corregedor e o Judeu, constituindo-se como um poderoso adjuvante de duas entidades antagónicas, o Anjo e o Diabo.
A sua “simpreza”, tão apreciada entre os católicos, entre os quais se encontram Gil Vicente e os próprios reis (conjuntamente com o rei D. Manuel I e a rainha D. Leonor, são os leitores/espectadores ideais desta moralidade), e o facto de não ter “errado per malícia”, são contributos inigualáveis para a sua entrada no Éden, ficando a aguardar, ao longo da peça, que chegue esse momento.

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