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Sintra - Portugal vale a pena!

sábado, 17 de setembro de 2011

UM OUTRO "AUTO-RETRATO” DE BOCAGE




Gordo, olhos verdes, pele branca
Trinta e dois de pé, grande na altura.
Sempre a sorrir, luminosa figura,
Nariz insignificante no meio da carranca.

Sempre sorridente, sempre sereno,
Menos propenso à ira, do que à brandura.
Bebe cerveja, lamenta a gordura,
Exemplo pacato de bondade e candura.

Encontra na escrita as suas verdades,
Nunca se lhe escuta queixa, ou lamento.
E assegura: “ - Do ócio não tenho saudades!”

Eis Bocage em quem luz enormíssimo talento!
Saíram dele vários auto-retratos, inúmeras possibilidades,
Num dia em que só um resistiu à força do vento.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

UM OUTRO FINAL PARA "A FARSA DE INÊS PEREIRA"




Pêro - Chega! Uma cousa é a personagem que represento,
outra é o eu verdadeiro.
Que raio, afinal também tenho sentimentos e isto é um ultraje!
Recuso levá-la para junto do Ermitão.
Lá porque o seu primeiro casamento correu mal (rilha entretanto uma pêra) …

Inês - Marido cuco me levades
E mais duas lousas.

Pêro - ASSI NÃO SE FAZEM AS COUSAS!
ASSI NÃO SE FAZEM AS COUSAS!
NÃO FAZEM, NÃO!

Inês - Mas (surpreendida)…no guião diz-se que eu vou às suas costas.

Pêro - Recuso-me. Até porque tenho espondilose!

Inês - (cantarolando) Carregado ides, nosso amo,
com duas lousas.

Pêro - Escusa de insistir, Inês. Não vou. Fico!
Não sou parvo!

Inês - Mas era a sua deixa..
Agora teria de dizer “Pois assi se fazem as cousas.”

Pêro - Isso era antes, Inês. Agora acabou.
Ouça verdadeiramente a sua mãe.
Está a ver aqueles dois (apontando para Latão e Vidal)?
Peça-lhes que a levem às costas. Eu vou-me!

Inês - Mas, Pêro (suplicando, desesperada). Ouça, ouça…e as lousas?
O que faço com as lousas?

Pêro - (voltando-lhe as costas) Dê-as ao Ermitão…depois de ter subido esse enorme morro!


E assi se vão, e se acaba o dito Auto.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Évora – Aemerita Augusta (Mérida)


Um percurso de visita pelo Alentejo é também uma viagem às memórias de um país. São várias as fortificações existentes ao longo deste trajecto e estas são testemunhas privilegiadas de fortaleza, de protecção, de instabilidade, de crença numa pátria, de medo e horror. Avistam-se da A6 e surgem paulatina e surpreendentemente aos olhos do viajante, como se este visionasse um qualquer filme histórico.
O tempo ameno e os tons macilentos da tórrida planície são inesquecíveis. A primeira paragem obrigatória é Évora (Património Cultural da Humanidade), local onde reluz um legado cultural dos mais ricos do país, fruto da presença regular da monarquia portuguesa. Cidade onde o frescor e o cálido coexistem.
Évora do recinto megalítico de Almendres, Évora das ruas medievais, da Praça do Giraldo, da Catedral, do Castelo Velho, da Universidade, do aqueduto da Água de Prata,da igreja da Graça, da praça de Sertório, do templo de Diana, das casas caiadas de branco e das sombras contrastantes dos interiores do casario. Évora é isto, mas é também o seu povo, carismático, integrado no cenário da cidade.
Esta viagem, que marca para sempre a nossa memória individual, é também um roteiro pela gastronomia - sobretudo pela experiência inesquecível que é degustar uma sopa de cação. Sabores únicos que se diluem na planície!
Em Estremoz outros monumentos que nos embevecem: O castelo, a igreja matriz de Santa Maria, a capela da Rainha Santa, o Pelourinho, a igreja de Santiago, o Museu de Arte Sacra, etc. Em Vila Viçosa o paço Ducal, a capela real, o Museu de Arte Sacra.
Porque nós somos esses monumentos!
Terra de Florbela Espanca, sempre omnipresente. E a fortaleza da sua poesia, gerada por uma personalidade sensível, incorpora a solidez daqueles mármores alvinegros.
Elvas, terra de justas e de encontros da realeza Ibérica, loca de transição para a Estremadura.
Daí até aos prémios de Augusto. Mérida, nasceu das ofertas de terras aos legionários reformados, que obtiveram a sua recompensa após o seu (longo) dever militar.
O Teatro Romano é impressionante, é como se regressássemos ao passado através de uma máquina do tempo que ainda não foi inventada. À frente do palco o coro, antes três saídas, o cenário e…seis mil lugares. Uma acústica soberba, fruto do engenho humano. Mesmo ao lado, o Anfiteatro, onde ainda se pressente os gritos dos gladiadores e o ardor das corridas de quadrigas. As pontes e o templo de Diana. As pontes e o Arco de Trajano.As pontes!
Como nos relacionamos com esta antiga cidade? Só desta forma: Mérida foi a capital da Lusitânia!