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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

CARTA PESSOAL DE FERNANDO PESSOA A UM PROFESSOR

(aviso: para compreender este texto é preciso conhecer-se o mundo Pessoano. Objectivo: contextualizar esta carta com a obra do produtor de “A Mensagem” )

Lisboa, 15 de Junho de 1932

Exmo. Senhor;

Registo com desagrado, múltiplas e heteronímicas informações que me têm causado um certo desassossego e ao amigo Bernardo Soares. Com efeito, dois confrades: Alberto Caeiro, que toma conta dos meus rebanhos e Álvaro de Campos, engenheiro, cujo Chevrolet lhe provocou uma inveja mítica, confidenciaram-me que o Senhor tem…vindo a difamar-me nas suas aulas, apelidando-me de preguiçoso intelectual, ao semi-analisar poemas meus, que reflectem a – MINHA - vontade de não pretender pensar. Não desejará, certamente, o caríssimo, que eu telefone ao meu amigo futurista, Almada Negreiros, de forma a que ele escreva um outro manifesto Anti-Dantas (N.E – lamentamos a ausência do ponto de interrogação por vontade expressa do autor desta carta).
Uma outra mensagem que me foi segredada, por uma amiga ceifeira, foi a de que o senhor me anda difamando, nas suas aulas, apelidando-me de fingido. Ora, caro senhor-embebido-em-máquinas-difusas-e-longínquas, é o senhor que me vai dizer quem sou?
Digo-lhe que jamais o perdoaria, nem que fosse amigo de Cesário, Camilo Pessanha ou Antero. Nem que fosse o próprio Sidónio!
Um outro amigo, órfico, de quem eu, deliberadamente, ocultarei o nome e o brasão, disse-me em surdina, de uma forma breve…leve…suave, que o senhor teve dores ao ler os meus poemas. Ora, muito bem feito!!!
O senhor, supostamente, não-fumador, ensinou nas suas aulas algo que me contraria: que o Paulismo tinha sido imaginado por um seu primo, com o nome de Paulo; que eu tinha escrito no "Jornal do Benfica”, ao invés de "A Águia"; que eu tinha parecenças (físicas) com Camões; que eu tinha um parente que tinha sido rei; que eu tinha uma série de irmãos gémeos.
O senhor volta a difamar-me e aos meus amigos e passa-lhe um comboio por cima, a toda a velocidade. Pior: afundo-o…num paul. O senhor volta a enganar-se, ISTO que seja e eu 1,2,3,45…Norte. Olhe que quem anda à chuva (oblíqua) molha-se!!!
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Agora que estou mais calmo, deixe-me dar-lhe alguns conselhos:
1. Evite ter uma alma pequena!
2. Seja Descontente!
3. Busque o poder e renome de Portugal!
4. Nunca saia à rua com nevoeiro!

Subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos e máxima consideração.

Fernando António Nogueira Pessoa

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