Sintra

Sintra
Sintra - Portugal vale a pena!

sábado, 16 de outubro de 2010

UM CONSELHO DE LEITURA: INÊS DE PORTUGAL

Referência bibliográfica: Aguiar, João, Inês de Portugal, 3ª ed., Leya editores, Alfragide, 2008.

Inês de Portugal é um livro invulgar: parte de uma experiência inversa em relação ao habitual. De facto, o filme antecipou a existência do livro, que teve por base o guião construído previamente. De forma que a obra, sofrendo a devida expansão literária, foi influenciada pelas técnicas do cinema, sobretudo o flash-back, utilizado repetidamente, bem como a técnica do corte e montagem que no livro é representada por hiatos na mancha gráfica.
No domínio da narrativa existe uma acção principal e outras secundárias que são apresentadas em sequências alternadas, (nomenclatura com origem em Bremond, cf. Reis, Dicionário de Narratologia, 2005: 376). A vantagem desta fuga à linearidade da acção, acentuada pelos flash-backs é a de surpreender e interessar o leitor, mostrando o passado feliz dos apaixonados, Pedro e Inês, passado que contrasta enormemente com a loucura de D.Pedro, num tempo presente.
O lirismo desta história é consolidado pelo processo figurativo com predominância na metáfora, não esquecendo que a própria história é paradigmática (sempre foi e sempre o será) em relação à paixão entre um homem e uma mulher, independentemente da respectiva condição. Trata-se de uma apologia ao amor, que se elevou à condição de mito o longo dos séculos.
Por outro lado, nesta ficção evoluem personagens desenquadradas historicamente, tal como Álvaro Pais (que teve importância declarada durante o reinado de D. Fernando, tendo sido, igualmente, um dos conspiradores da revolução que ocorreu, em 1383, nas ruas da cidade de Lisboa). No posfácio, Aguiar confirma a existência de uma liberdade ficcional, que lhe permitiu reinterpretar a focalização de Fernão Lopes e Rui de Pina:

“Inês de Portugal é um romance e não um ensaio de reconstituição histórica, embora na sua elaboração eu me tenha socorrido das crónicas de Fernão Lopes e Rui de Pina.” (Aguiar, 2008: 109)

Inês de Portugal tem como fonte principal a Crónica de D. Pedro I, designadamente os episódios relativos aos amores de Pedro e Inês, história trágica, narrada por Fernão Lopes, que termina com o casamento do herói com a amada já morta.
João de Aguiar arquitectou uma história pitoresca, transfigurando a visão histórica normativa presente na cronística medieval (geralmente favorável aos biografados); o insólito encontra-se, também, na desconstrução histórica de uma outra personagem: Afonso Madeira (caracterizado por Lopes de uma maneira absolutamente distinta);
POR TODAS ESTAS REFERÊNCIAS FICA UM CONSELHO: A LEITURA DO LIVRO E A VISÃO DO FILME...OU VICE-VERSA.

Sem comentários:

Enviar um comentário