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domingo, 17 de outubro de 2010

TEACHING IS A WORK OF HEART

Hoje partilho convosco um sentimento que assola o meu espírito desde há alguns dias...

Eis a história:

Há alguns anos fui convidada pela responsável de um colégio, onde actualmente trabalho, para leccionar Inglês. O horário na outra escola onde trabalhava era compatível com o segundo e logo aceitei o desafio. Contudo, e de imediato, apoderou-se de mim algum receio: a tarefa era a de ensinar crianças do 1º ciclo e eu nunca o tinha feito. Confesso que já trabalhara com todas as faixas etárias, excepto com esta. E tive dúvidas se estaria preparada para o fazer.

Hoje reconheço, que estas crianças me conquistaram de imediato. Por isso não me canso de considerar que as crianças nos devolvem, duas vezes, aquilo que lhes damos, quer seja o bom quer o mau. Mas mesmo naqueles dias em que já venho cansada das anteriores tarefas e chego ao pé deles, aqueles sorrisos e abraços devolvem-me toda a energia necessária. Mesmo que no fim o dia a cabeça esteja cansada, o coração está cheio!

Partilho, então convosco a história de um dos meus alunos, a quem vou chamar António.

O António foi sempre o melhor estudante da turma em todos os níveis: brilhante desempenho, comportamento irrepreensível, atitude colaborante, era sempre o primeiro a levantar o dedo para participar todas as actividades realizadas. Respeitador das regras de sala de aula, nunca se levantava ou participava sem levantar o dedo para eu dar qualquer autorização. Esmerado, fazia todos os trabalhos de casa e participava diariamente nas aulas, de forma efusiva.

A certa altura o António mudou radicalmente o seu comportamento, não cumpria as regras estabelecidas, implicava com os colegas, estava distante e já não participava como antes. Logo verifiquei que algo se passava e perguntei à educadora que os acompanha na escola o que se passava. Ela disse-me que tinha havido um drama pessoal com um familiar muito próximo, um problema de saúde grave. E desde então o António nunca mais foi o mesmo. Tentei todas as estratégias, trabalhei individualmente com ele, tentei incutir-lhe o espírito do trabalho em grupo, falei com os pais e com ele, sempre dizendo à educadora (que também estava empenhada em ajudá-lo), que eu não ia desistir desta criança e tudo ia fazer para ter o [velho] António de volta. Por isso, ia ajudá-lo no que pudesse.

O António tornou-se muito calado e nunca falava desse familiar doente. Um dia, no final do ano lectivo anterior, fiquei a falar com ele no fim da aula. Ele, então, desabafou os receios que tinha no seu coração de criança: também se achava responsável pela situação. Falei permanentemente com ele, ajudei-o como pude, explicando-lhe a situação e ali não fui professora, mas senti-me um pouco a mãe daquele menino.

Passado algum tempo, no final da aula, falei desse familiar com ele, de repente ele começou a falar dele sem parar, e eu nunca o interrompi. Olhei para a educadora que os tinha vindo buscar às aulas e ambas percebemos o que tinha acontecido.

Abrira-se a caixa de Pandora! Ele falava, como nunca tinha falado, desse familiar.

Contudo, o António manteve o comportamento transgressivo no início deste ano lectivo. Uma vez mais, falei com a educadora, reforcei que ia continuar a lutar por ele, agora que já estava no 4ºano, queria tê-lo de volta, com o seu comportamento e atitude irrepreensíveis. Há duas aulas atrás, o António portou-se muito bem e, no fim, frente aos outros alunos, elogiei-o, disse-lhe que ele se tinha portado muito bem, que estava a ser o “velho” António e que eu estava muito orgulhosa dele. Respondeu-me com um sorriso!

Na última aula voltou a portar-se muito bem, participando muito mais activamente e senti que estava a ter o António de volta. No fim da aula falei com a educadora para lhe dizer que eu estava radiante, pois o António nas duas últimas aulas tinha estado muito melhor… até o elogiei! Ela respondeu-me: - Eu sei, professora. O António veio ter comigo, pegou na minha mão e disse-me com um sorriso que a Teacher o tinha elogiado muito. Não falámos, apenas olhamos uma para a outra e sorrimos, os nossos olhos iluminaram-se.

Espero amanhã ter o meu António de volta, a participar empenhado e atento! Não desisto nunca, basta um sorriso dele e de todos os Antónios para perceber que valeu a pena!

Cumpri a minha missão. É por isto que ensinar vale a pena hoje e sempre!

Teaching is a work of heart!

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