Capítulo
V – Um teste muito particular
-
Está bem! Empresto-te a minha caneta para fazeres o teste, mas depois não te
esqueças de ma devolver no final. – Respondeu o professor Antero, face à
solicitação de um menino que se esquecera da caneta para fazer o teste.
A
aula do dia seguinte à do plano de Rubina era muito especial. Os meninos iam
ser postos à prova, num teste com um enunciado de três páginas, com
interpretação, gramática e composição. O professor Antero não admitia erros e o
Manuel Barbosa, que era de Setúbal, tremia só de pensar nisso.
Como
mais nenhum aluno da turma tinha uma caneta disponível no estojo, o Manuel
decidiu pedir por empréstimo a caneta, que lhe foi depositada na palma da mão
pelo desconfiado Antero.
Ofélia
sorriu sem que Manuel se apercebesse de tal. Ia dar início, finalmente, ao
plano da Rubina. O Manel, para os colegas, enfrentou então o teste. Depois de
ler o texto e as perguntas do primeiro grupo, começou a responder ao
questionário que lhe era proposto.
«Acho
que o portagonista da história é…». Ofélia detetou o primeiro erro e, num impulso que surpreendeu o rapazito, corrigiu a palavra errada, «protagonista»,
fazendo uso da sua própria borracha, primeiramente, e depois escrevendo-a
de forma correta. Fê-lo com uma rapidez espantosa, num verdadeiro passe de
mágica. De tal forma, que o rapaz ficou com boquinha de ovo e com os olhos a
ocupar um espaço invulgar na sua pequena carinha.
- Ohhhhhhhhhh!
Ofélia
não reagiu e o rapazito, depois da surpresa inicial, decidiu continuar o teste
até porque tinha de o completar até ao final da aula. Manuel começou a
responder à questão 2:
«Derrepente…» - Escreveu o rapazito.
Ofélia, que estava atenta, corrigiu de imediato o erro e o rapaz esboçou,
depois da inquietação inicial, um sorriso. Enfrentou, então, mais confiante o
grupo da gramática.
A
resposta da II. 1 ia surgindo através da ponta fina da caneta: «O adevérbio…».
Ofélia foi tão rápida quanto Mercúrio sempre que convocava os deuses para o
Olimpo. Num piscar de olhos
reescreveu corretamente a expressão: «O
advérbio…». Algum tempo depois, o Manuel fez o plano da composição
tal como o professor Antero aconselhara. Depois iniciou a textualização,
esquecendo a marca de parágrafo. Ofélia emperrou nessa altura, não escrevia mesmo
e o rapaz compreendeu que algo estava mal.
-
O que se passa? Por que não escreves? Por que secaste? – Inquiriu, em voz
baixa, o rapazito.
A
caneta, olhou-o sem que ele notasse, posicionou-se no sítio certo e a marca de
parágrafo foi então respeitada.
Ahhh!
Já percebi – Concluiu Manuel, de olhos esbugalhados.
Ofélia
sorriu uma vez mais para o petiz e este ia prosseguindo o seu trabalho. A
respiração ofegante e uma pequena gota de suor, que caiu sobre o enunciado,
anunciavam que o teste tinha deixado marcas. Sobretudo muito cansaço.
Ufffffffffffffff!
– Disse, quase em surdina. Olhou para o relógio e os olhos refletiram um pequeno
momento de terror: uns escassos cinco minutos separavam-no da finalização do
teste. A personagem da sua história, aquela que o conduziu, e sobre a qual
escreveu: «Agustina sorrio…»,
impedia-o certamente de concluir essa mesma história sem erros. Na verdade, a Agustina
apenas…sorriu. Ofélia não hesitou: impediu a influência que o primeiro /o/
exercia sobre o segundo e reescreveu: «Agustina
sorriu…».
Carlos Marques
Carlos Marques