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sábado, 12 de novembro de 2011

Todas as cartas de amor são ridículas…por Fernando Pessoa


A propósito de cartas formais e cartas pessoais, aqui fica um poema de Fernando Pessoa. Há que fazer uma leitura posterior da sua correspondência com Ofélia Queirós, para que se perceba este texto. Neste contexto,entender a polissemia da palavra "ridículas" é crucial. A estrofe final é reveladora do intuito do eu poético, tendo em conta que este poema é necessariamente autobiográfico.

Todas as cartas de amor são ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,

Ridículas. As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas. Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas. A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

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