Sintra

Sintra
Sintra - Portugal vale a pena!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

UM OUTRO FINAL PARA A ENEIDA



- Como é cara? É hoje que você vai nos vencer? – Este foi o implícito desafio lançado por Eneias a Turno. Da sua boca, repentinamente, surgiram outras questões. A expressão do centro-avante do Fluminense denunciava a fúria própria de quem vem cimentando o ódio há largo tempo – Você vai hesitar hoje, bicho? Quero ver você marcar mais golos do que eu! Vamo´bora, vamo lá lutar, cara!
Nesse dia solarengo o Maracanã estava a abarrotar. A torcida dos dois “times” agitava-se, mas enquanto se perfilavam as duas equipas antes do início do jogo, Eneias recordava um passado não muito distante.
Carioca de origem, cedo tinha emigrado para a Grécia, para o célebre Beksitas. Um olheiro turco tinha pressentido que estaria ali um jogador de enorme futuro. Com ele foram outros brasileiros: Anquises, zagueiro experiente em final de carreira; Acates, um lateral-esquerdo de grande compleição física e Ascânio, um outro centro-avante, sub-17.
O contingente brasileiro fez prosperar o clube turco, que se tornou poderosíssimo, fazendo um brilharete na complicada Liga dos Campeões.
Eneias revelava-se progressivamente como grande jogador e as suas economias, enviadas para o Brasil, permitiram à família a aquisição de uma casa de férias, na terra de origem do seu pai. Foi ao largo de Setúbal, em Portugal, num istmo paradisíaco, Tróia de seu nome, que a família deste herói comprou (a pronto) um grandioso T3, onde todos passavam férias e se deliciavam com o peixe assado da terra do célebre Mourinho.
Mas como o bem nem sempre dura, o clube turco foi comprado por um grupo de investidores gregos pertencentes à firma Agamémnon&Menelau, lda.
Estes negociantes gregos trouxeram com eles…alguns jogadores gregos: Aquiles, Calcas e Ajax. A Eneias só lhe restava o regresso ao Brasil e ao seu amado Fluminense. E, foi por essa altura, que conheceu Lavínia, filha de um industrial brasileiro. Lavínia vivia em Copacabana e era tal a sua beleza que era conhecida como a “menina do Rio”.
Eneias, “Né” para os amigos, ficou embasbacado assim que a viu, numa esplanada no Leblon, mas percebeu que, a seu lado, estava sentado alguém que ele bem conhecia dos relvados brasileiros, o temível Turno.
Havia pouco tempo que Turno regressara de Itália. Jogara no Inter, mas as saudades do seu país falaram mais alto que os euros e as pastas que tanto apreciava. Regressou para jogar no Flamengo e, aí, voltou a revelar uma tremenda acutilância e codícia pelo golo.
- Lavínia, meu bem, vamos na lanchonete? - Perguntou com convicção.
- Mas, você não tem de seguir uma alimentação cuidada e racional? Pergunto: você pode comer sorvete? – Inquiriu ela, desconfiada.
- Concerteza!
Antes do clássico Fla-Flu, Lavínia prometera que iria ao cinema, para ver a multicolorida animação “Rio”, com aquele que marcasse o melhor golo. Eneias e Turno iriam lutar por isso.
- As suas palavras férvidas não me assustam, feroz jogador! Apenas receio o Destino! – Foi com estas palavras ressentidas, meneando três vezes a cabeça, que Turno resolveu aceitar o desafio de Eneias.
E o jogo começou. Decorreu com tal intensidade, que a “torcida”, sorvendo goles de Guaraná, exultava de emoção.
Próximo do final o embate não se decidia a favor de ninguém e o resultado nulo mantinha-se teimosamente. Até que, por um acaso do destino, Turno ficou isolado. A sua corrida era vertiginosa, mas, a determinada altura, a bola pareceu-lhe pesar uma tonelada. Por isso, foi perdendo a noção de si e a corrida terminou numa simples marcha. A acção dos deuses era tremenda: os joelhos de Turno fraquejavam e um calafrio gelou-lhe o sangue. Olhou para as bancadas, mas nada viu, nem a sua própria irmã.
Perante a hesitação de Turno, Eneias roubou-lhe o esférico e, com grande energia, fez um contra-ataque mortífero. Por essa altura, penetrou na zaga do Fla e, frente a Anteu, o goleiro, rematou. A bola, atingindo o próprio Anteu, acabou por entrar na baliza.
Foi o delírio nas bancadas e a “torcida” do Flu clamou por Eneias e este não perdoou. Nas bancadas, Lavínia parecia estar convencida sobre o mais valoroso guerreiro. Eneias bradou, então, para Turno:
- Você não vai escapar, cara! No jogo anterior, você marcou um miserável golo a Palante, o nosso goleiro. Agora vai haver sangue!
Após ter proferido estas palavras, fez um tremendo (ou massive, como dizem os ingleses) remate de trivela, marcando um golo memorável, que fez entrar em delírio todo o Maracanã.
Nessa noite, Eneias e Lavínia, felizes, viram “Rio” e trocaram juras de amor.

Sem comentários:

Enviar um comentário