«A vida não é feita para construir, mas para semear. Na ampla dança de roda, desde o início até ao fim, passa-se e espalha-se a semente. Talvez nunca a vejamos nascer porque, quando despontar, já não existiremos. Não tem qualquer importância. O que importa é deixarmos atrás de nós qualquer coisa capaz de germinar e de crescer»,in Tamaro, Susanna, «A Alma do Mundo», Editorial Presença, 1998, p. 196.
Sintra
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
UMA OUTRA VIAGEM À ÍNDIA – II
7 de Julho de 1497, final da tarde
O anel brasonado, o bigode retorcido nas pontas, o lenço em tafetá e uma pronúncia arrastada denunciavam as suas origens...era do Restelo.
Tio do Restelo (em conversa amena à porta dos “Pastéis de Belém” com Vasco da Gama e seu irmão Paulo) – Mas, ooouçam, em vez de irem por caminhos desconhecidos, o que é pouco confortável, por que razão não vão a Marrocos, que é já aqui ao lado?
Vasco da Gama – Mas, Tio, o que é que existe em Marrocos de especial (denunciando a sua pronúncia alentejana)?
Tio do Restelo – Muita caturreira! O Vasco já foi a Marraquexe? É o máximo! Fica próximo da Cordilheira do Atlas, tem óptimos hotéis, o maior Suq de Marrocos, muita agitação…E em vez de viajar só de barco, pode andar de camelo! Ó Paulo (com um gesto de quem chamava por alguém distante e um olhar sobranceiro)!
Paulo da Gama – Diga Tio (não esquecer, também, a pronúncia alentejana)!
Tio do Restelo – Já ´teve em Casablanca?
Paulo da Gama – Não, Tio!
Tio do Restelo – Então não sabe o que é booom! Aquelas praias, aquela marginal…e vocês com a teimosia de quererem ir à Índia! Essa caturrice é um horrooor!
Paulo da Gama (com gestos de quem pretende abraçar o mundo) – Nós queremos ver Bollywood! Somos Cinéfilos, somos assim, pronto!
Vasco da Gama – (repentinamente) Eu também quero conhecer o Taj Mahal!
Paulo da Gama – Uma das sete maravilhas do mundo! Aquele monumento é maravilhoso!
Vasco da Gama – …todo incrustado de pedras preciosas!
Paulo da Gama – (com um gesto supersónico) E eu quero ver os Pilares de ashoka!
Vasco da Gama – E eu as Grutas de Elephanta, em Mumbai!
Paulo da Gama – (ripostando) E eu Fatehpur Sikri, a cidade abandonada!
Tio do Restelo – Pronto, pronto, os piquenos é que sabem! Não há pachooooora! Eu, agora, já não tenho tempo p´ra mais nada, está na hora de ir jogar golfe! A Maria está ali à minha espera naquele carro eléctrico de última geração. Mariaaaaa, espere!
(TODO O RESTANTE TEXTO ESTÁ PUBLICADO NA PÁGINA INTITULADA, "FINAIS SUBVERSIVOS DE OBRAS CLÁSSICAS")
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário