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segunda-feira, 25 de abril de 2011

O ESPECTÁCULO DE FINAL DO ANO LECTIVO

I ACTO

Doca de Alcântara, final de uma tarde solarenga de Maio, ano de 2011.
As portas vítreas do Museu do Oriente, onde sobejam as dedadas dos visitantes, são encerradas por um zeloso funcionário. No interior do Museu sobrevém um silêncio sepulcral que em tudo contrasta com um dia de actividade febril. Os olhares interessados, os esgares, os sorrisos dos visitantes, os risos das crianças ecoam apenas na memória daquelas paredes, onde se misturam tons rubros e brancos. Paredes que vigiam sobranceiramente as vitrinas onde reluzem testemunhos da presença portuguesa na Ásia.
Resta o silêncio. Escuridão.
Inesperadamente, um relâmpago. Uma forte luz ilumina, subitamente, a expressão de um samurai quinhentista. De Tanegashima, dirão os entendidos. O seu olhar adquire a seriedade que fez dele um guerreiro eficaz e resistente. O seu primeiro gesto é o de alçar, até à altura dos seus negros olhos, as suas yagate. E vai comprimindo a sua armadura, de lâminas de metal e vai manejando a sua catana, eficaz arma de guerra que o elevou ao patamar da fama no longínquo Japão do século XVI.
Mas…aquele relampejar não é único.
Mesmo ao lado, uma réplica, em cera, de Fernão Mendes Pinto. Ganha alma, o olhar expressão, o tronco vida. Mexe-se vagarosamente e tenta alcançar a espingarda com a qual caçara, com sucesso, no reino do Japão. Cofia a farta barba, ajeita o gibão escarlate…sorri. Meneia a cabeça e reconhece o samurai, que muito apreciara, exemplo de lealdade para com o Nautoquim. E faz uso da sua voz cavernosa: “No Japão existe gente acolhedora…e tesouros!”.
Um novo relâmpago deflagra à sua direita, iluminando a sala semi-escura. Numa terceira vitrina, a figura, em cera, de um arquitecto, que segura uma maqueta, transfigura-se.
Urbanista, planificador, burocrata, sem que haja uma ordem específica nesta enumeração. Articula palavras ao acaso: “translúcido”, “opaco", "luz", "cor", "forma", "peso", "massa".
A meio da sala está sentada uma criança. Escondera-se e aguarda a chegada dos aflitos pais. O seu olhar reflecte a incredibilidade e a alegria, em simultâneo. Três figuras de cera! Três figuras de cera…tinham ganho vida!
Arq. – (saindo da vitrina) Sinto-me perdido neste espaço! (dirigindo-se a FMP) Quem és tu…Bramante? Le Corbusier?
FMP – Sou Fernão Mendes Pinto. Isto aqui não é o reino do Japão…definitivamente! (entretanto mira o guerreiro japonês) Conheço-o! É um samurai famoso (afasta-se). E vêm-me à memória todas aquelas aventuras fabulosas no Japão!
Samurai – Arigato!
Criança (espantada) - Ahhhhhh! E vem cumprimentar todas aquelas personagens, acreditando piamente que o reino da fantasia se tinha sobreposto ao da realidade. Vindos de uma outra sala, renovavam-se, aos magotes, mais e mais guerreiros japoneses (CONTINUA).

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